Toxoplasmose é uma doença causada por um protozoário chamado Toxoplasma gondii. Praticamente todos os mamíferos são suscetíveis à Toxoplasmose, mas destaca-se a infecção nos homens, nos gatos, nos ovinos e caprinos e nos suínos. Tem importância médica e veterinária por ser causa de abortos e doença congênita nos homens e em várias espécies de animais.
Desde 1954, este parasita é descrito como agente causador de abortos, sendo considerado o maior responsável por problemas reprodutivos na espécie ovina. Os danos reprodutivos como a repetição de cio, o aborto, a ocorrência de natimortos, ou o nascimento de cordeiros débeis, que morrem logo após, e os consequentes prejuízos econômicos são evidências há tempos relatadas em países como Nova Zelândia, Austrália, Inglaterra, França, Índia e Canadá. Na América do Sul, o Uruguai estimou que os prejuízos anuais decorrentes dessa enfermidade variam entre 1,5 a 4,7 milhões de dólares. No Brasil, sabe-se que as taxas de infecção para ovinos e caprinos são significativas. Foram encontradas taxas de 39% de positividade em ovinos abatidos no Rio Grande do Sul. Em Minas Gerais, 36,8% dos caprinos estudados estavam positivos e na Bahia 18,7% dos ovinos e 28,9 % dos caprinos mostraram-se positivos. Os dados encontrados em São Paulo revelaram que 30,4% das amostras eram positivas no Estado. O ciclo do T. gondii é complexo.
Os gatos são os hospedeiros definitivos do protozoário, enquanto que as outras espécies servem como hospedeiros intermediários. Somente os gatos, e especialmente os mais jovens, podem eliminar milhares de oocistos nas fezes. Estes oocistos sobrevivem de 12 a 18 meses no solo e são a principal fonte de infecção para os animais. A doença pode ser congênita (transplacentária) ou adquirida. A forma congênita é a mais grave e ocorre quando a fêmea se infecta primariamente durante a gestação e o agente atinge a placenta e depois o feto. Embora a infecção transplacentária ocorra em qualquer estágio da gestação, as alterações são mais severas quando a fêmea se infecta durante a primeira metade da gestação. Ocorre aborto, nascimento de prematuros, natimortos ou nascimento de filhotes débeis que logo vão a óbito. A forma adquirida ocorre depois do nascimento e pode ocorrer por ingestão dos oocistos esporulados presentes em pastos, hortaliças, água, etc.; ou por ingestão de carnes cruas ou mal passadas contendo cistos, ou ainda por ingestão de leite cru e ovos (mais rara).
Formas de Infecção
l Gatos - Os gatos são infectados, principalmente, ao ingerirem os cistos contidos nos tecidos dos hospedeiros intermediários, ou seja, através da ingestão de carne crua ou de presas, como roedores e pássaros. No organismo do gato, o agente faz um ciclo no intestino e é quando as formas infectantes (oocistos) são eliminadas para o ambiente (durante 1 ou 2 semanas são eliminados cerca de 100 mil oocistos por grama de fezes). A infecção dos gatos por ingestão de oocistos vem em segundo lugar e a congênita (de mãe para filho) é a forma de infecção mais rara.
l Ovinos - Os ovinos infectam-se principalmente ao ingerirem os oocistos eliminados pelas fezes dos gatos e que ficaram no ambiente, nos alimentos, na água, entre outros. Estes ovinos poderão ou não mostrar sinais clínicos da doença, mas vão adquirir imunidade. A forma mais grave da infecção é a congênita, quando as ovelhas não infectadas, ou seja, sem imunidade, contraem o Toxoplasma gondii durante a gestação. Neste caso é que ocorrem as perdas reprodutivas, como abortos. Vários estudos apontam maior risco de infecção em animais criados confinados ou semiconfinados, devido à maior exposição deles à fonte de infecção, ou seja, são mais expostos à presença de um gato excretor.
l Homem - A infecção acontece através da ingestão de carnes ovinas, bovinas, suínas, preparadas cruas ou mal passadas contendo cistos (é a forma mais freqüente); ingerindo verduras e hortaliças contaminadas com os oocistos esporulados; ou ainda por via congênita, quando a mãe sem imunidade se infecta e o agente passa para o feto. Como o gato defeca e enterra as suas fezes na terra fofa, e por causa de seus cuidadosos hábitos de higiene, a possibilidade de transmissão para seres humanos pelo ato de tocar ou acariciar um gato é mínima.
Formas de prevenção
- Controlar a população de roedores nas instalações.
- Controlar a população de gatos nas instalações.
- Alimentar gatos domésticos com carne cozida ou ração e não oferecer leite cru.
- Incinerar as fezes de gato ou proteger as caixas de areia.
- Evitar a ingestão de leite cru, ovos crus ou carne crua ou mal passada.
- Evitar contato de gestantes com gatos jovens.
- Usar luvas em trabalhos de jardinagem (gatos enterram suas fezes).
- Lavar bem as mãos após manuseio de carne crua.
l Vacinas - A primeira vacina comercial contra a Toxoplasmose foi a Toxovax, produzida com a amostra S48 e utilizada em ovinos. É amplamente utilizada no Reino Unido e na Nova Zelândia, pois previne os abortos.
l Tratamento - A Toxoplasmose ovina pode ser tratada com antibióticos a serem prescritos por um médico veterinário.
Prevenir a eliminação de oocistos pelos gatos é uma das mais importantes formas de controle da toxoplasmose.
Maria Tereza C. Queirolo é médica-veterinária da Seappa (RS), especialista em Saúde Publica e professora de Parasitologia no curso de Medicina Veterinária da ULBRA, Campus Canoas (RS). Título original: Abortos, natimortos ou cordeiros fracos que morrem logo após o nascimento?
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