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Vacinas: quando e como usá-las

Autor: Helio Langoni - 10/03/2009

Por que vacinar? Para imunizar, óbvio! Num primeiro momento, surge a resposta - para prevenir - o que é ques­tionável, pois se previne de fato somente quando o animal está realmente imunizado, e para tanto são vários os fatores envolvidos. Como resposta, poderia dizer que o mundo clama por “sanidade animal” e o objetivo precípuo da medicina-veterinária é se preocupar com animais hígidos e alimentos livres de conta­minantes de maneira geral, e em especial os de caráter zoonótico.

São estes aspectos que tornaram o Brasil líder entre os exportadores de carne bovina, pois houve investimento para atingir grande avanço tecnológico na cadeia produtiva da carne, procurando manter a sanidade do rebanho, fazen­do com que a carne brasileira desse um salto na pauta das exportações. Sem dú­­vidas, o controle sanitário é o passaporte para a competição do produto brasileiro nos mercados mundiais e grande contribuição da agropecuária brasileira para o agronegócio, que representa, ho­je, uma fatia importante e significativa do PIB, mas que tem condições de brevemente ser o principal país fornecedor de carne do mundo.

O controle sanitário é possível a par­tir da adoção de medidas preventivas para evitar uma série de enfermidades que acometem os animais, e neste caso específico, os ruminantes. Entre essas me­didas, a imunoprofilaxia a partir da vacinação dos animais, permite o contro­le eficiente de muitas enfermidades. Algumas doenças já são prevenidas pela transferência de imunoglobulinas através do colostro, pois nos ruminantes não há passagem de anticorpos pela placenta. Desta forma, a vacinação das fêmeas protege as suas crias nas primeiras semanas de vida, pelo fornecimento de co­lostro rico em anticorpos produzidos a partir da vacinação, por exemplo, no terço final de gestação. Para que esta trans­ferência de imunoglobulinas ocorra é ne­cessário que o recém-nascido mame co­lostro nas primeiras horas de vida, até 36 horas no máximo, momento em que é possível maior absorção pela mucosa intestinal.

Os animais podem ser vacinados logo após o nascimento, pois em ­muitas situações há riscos para os neonatos. A princípio, todos os animais ao nascer, são imunocompetentes, entretanto, ocorre um amadurecimento do seu sistema imune com o passar do tempo. O ­prin­cipal inconveniente quanto à vacinação de neo­­natos é a presença de anticorpos bloqueadores ou neutralizantes, recebidos via colostral, que impedem uma me­lhor resposta por parte do animal, não pro­­piciando uma resposta imune ­efetiva. Quando o animal é vacinado, os linfó­ci­tos B, em resposta ao antígeno vacinal, respondem com a produção de anticor­pos das classes IgM e IgG. Essa respos­ta é variável em função do tipo de vacina administrada, de fatores relacionados ao próprio animal, qualidade da vacina, especialmente no que se refere à sua manutenção e manejo. Em algumas situações, frente a alguns patógenos, a res­posta humoral não é eficaz, havendo necessidade da resposta celular (ocorre a partir da interação de diferentes tipos de leucócitos e sua indução por lin­fócitos T, que reconhecem o antígeno e tentam destruí-lo) ou ainda por IgA secre­tória (anticorpos resistentes à ­destruição de enzimas proteolíticas, presentes nas superfícies mucosas). Para resposta ade­quada quanto a produção de IgA se­cretória o ideal é aplicação de vacina via mucosa, como por exemplo intrana­sal. Se uma fêmea for vacinada ou exposta a um determinado agente infeccioso em seu trato intestinal, haverá a produção des­­te tipo de imunoglobulina tanto no intestino como na glândula mamária, sendo transferida ao neonato durante a lac­ta­ção.

A imunidade ativa, adquirida de forma artificial, a partir da vacinação induz a período prolongado de proteção, ­sen­do mais intensa, rápida e mais duradoura a partir das revacinações. De maneira ­ge­ral, considera-se como vacina ideal aque­la que é capaz de induzir resposta imune intensa e por período prolongado. Além de eficiente, deve ser de baixo cus­to, estável e viável para utilização massal. Deve ainda permitir a diferenciação de resposta de anticorpos frente à vacinação e à infecção.

 

Classificações e tipos de vacinas

 

De acordo com as características do antígeno podem ser classificadas em vivas ou atenuadas, mortas ou inativa­das, e ainda em toxoides ou anatoxinas. As inativadas podem conter o agente ou somente suas frações antigênicas. Os toxoides consistem em toxinas bacte­ria­nas inativadas. O importante é que as vacinas inativadas mantenham as ca­racterísticas antigênicas do agente natural. Como inativantes são utilizados o formaldeído, que causa desnaturação proteica, a etileneimina, a acetiletilenei­mina e a b-propiolactona, que alteram ca­deias de ácidos nucleicos, não alterando a superfície proteica do antígeno, não interferindo na antigenicidade.

No caso das vacinas atenuadas, o agente se replica nas células do hospedeiro. Desta forma, os agentes virulentos devem ter a virulência reduzida, para serem utilizados nas vacinas. A atenuação pode ser obtida por passagens se­ria­das em modelos biológicos como animais de experimentação, cultivos tis­sula­­res, ou ovos embrionados. Outras possibilidades são a adaptação dos agentes a condições desfavoráveis ao seu desenvolvimento, por meio de temperaturas ou concentração inadequadas de sais à expressão de fatores de pato­genicidade, fazendo com que percam a adaptação ao hospedeiro natural. Atualmente, vêm-se realizando a atenuação com a utilização de mutantes termos­sen­síveis ou modificados geneticamente.

 

 

 

Podem ser citadas como vantagens das vacinas atenuadas: baixo custo, me­nor número de aplicações, não necessitam de adjuvantes, risco menor de hiper­sen­sibilidade, indução de interferon e ­bai­xa massa antigênica. Com relação às ina­tivadas, as principais vantagens são estabilidade no armazenamento, segurança no caso de animais prenhes, não apresenta virulência residual e agentes contaminantes. Como desvantagens no caso das atenuadas são o risco de pa­togenicidade residual ou imunos­supres­são, a possibilidade de reversão à vi­rulência, da manutenção do agente no meio ambiente, armazenamento especial, possibilidade de contaminação. Quanto às inativadas, fatores limitantes são a imunidade de menor duração, aplicação parenteral obrigatória, várias aplicações, maior massa antigênica, alto custo, e possibilidade de hipersen­si­bi­lidade.

A partir dos conhecimentos de bio­tecnologia e engenharia genética, é possível a produção de novos tipos de vacinas:

u Vacinas de subunidades: ­obtidas a partir da purificação do antígeno protetor. Elas impedem a ocorrência de hi­persensibilidade. São exemplos, o toxoi­de tetânico, que é constituído da exo­to­xina inativada do Clostridium tetani; a vacina constituída da citotoxina inativada de Pasteurella haemolytica; a vacina con­tra herpesvirus equino tipo 1, que é constituída da glicoproteína do envelope viral, e a vacina contra leptospirose que se constitui na membrana externa do seu agente. Nestas vacinas, a partir da identificação da fração protetora, são se­le­cionados os epitopos protetores im­por­tantes, com a subsequente clonagem do gene em vetores como Escherichia coli, Salmonela sp, ou por síntese química.

u Vacinas deletadas: consistem na atenuação pela mutação. Procede-se a seleção de mutantes com características desejáveis, como a diminuição na capacidade de reativação viral após latência, ou que possibilitem a diferenciação da resposta vacinal daquela in­duzida pela infecção ou doença, o que é possível deletando-se determinados ge­nes essenciais à replicação e imunoge­nicidade.

u Vacinas recombinantes: utilizam como vetores, vírus que apresentam capacidade de expressão genética de de­terminantes antigênicos de patógenos com a ausência de enfermidade no hospedeiro. São vetores o vírus vaccínia e os poxvírus, de diferentes espécies.

u Vacinas anti-diotipos: os anti­cor­pos produzidos frente aos antígenos apresentam regiões, que são denominadas de idiotipos, que correspondem ao flocal de ligação ao antígeno. Tais anti­corpos, quando inoculados em animal de espécie diferente da qual foram produzidos, induzem à formação de anti­corpos secundários, que apresentam re­giões com a configuração do antígeno inicial. Como vantagens, não possuem ácido nucleico e proteínas indesejáveis.

u Vacinas de ácidos nucleicos ou DNA vacinas: trata-se de injeção de par­tes do DNA purificado do agente que con­tém genes específicos para os antí­genos de interesse. Insere-se esta fração do DNA em plasmídeo, por exemplo, de E. coli, e aplica-se por várias vias no animal. Tem-se avaliado este tipo de vacina com bons resultados, na raiva, her­pesvirus bovino, doença de Aujezsky, e diarreia viral bovina.

u Vacinas polivalentes: levando-se em consideração a patogenicidade e aspectos relacionados ao manejo dos ani­mais, é comum a associação de antí­genos. Apesar do conceito de competição an­tigênica, diferentes estudos assinalam a indução de imunidade adequada para as enfermidades a que são di­rigidas.

u Autovacinas ou vacinas autóctones: são recomendadas em determinadas situações e preparadas a partir de materiais provenientes da própria propriedade ou local. São muito utilizadas para controle de surtos de diarreia, com resultados favoráveis, variáveis. Podem ser ensaiadas, a partir do isolamento do agente in­feccio­so e posterior inativação, devendo recorrer à laboratórios espe­cia­lizados para a preparação.

 

Recomendações

 

Ao aplicar determinada vacina, a imunidade não se estabelece prontamente, pois o organismo necessita de, pelo menos, entre 10 e 15 dias para que ocorra a produção adequada de anti­corpos. Este período, no qual o animal continua susceptível à doença, que vai desde a aplicação da vacina até o desenvolvimento da imunidade, é conhecido como fase negativa da imunidade. Este fato é observado quando da primo­vacinação, pois a partir da aplicação da segunda dose, ou reforço (booster), a pro­dução de anticorpos se estabelece mais rapidamente, sendo também mais duradoura.

Outros aspectos devem ser levantados, quanto à possibilidade de falhas em um programa de vacinação. Entre vá­rios fatores que contribuem para falhas na vacinação, impedindo a formação de anticorpos em concentração adequada para neutralizar o microorganismo agres­sor, estão:

u Deficiência da vacina: falta ou perda do poder antigênico, virulência do antígeno quando mal atenuado, que pode permitir a reversão de virulência, discor­dância an­tigê­ni­ca, ou seja, o mi­­croorganismo agressor pode ser de variante an­tigêni­ca diferente, ou no caso de vaci­nas contaminadas.

u Deficiência no ma­­­nejo e aplicação da vacina: por conservação inadequada do produto, aplicação após o vencimento, dose insuficiente, animais que escaparam à vacinação e pela falta de assepsia e limpeza no momento de aplicação.

u Deficiências no estado orgânico: animal com doenças intercorrentes, no caso de doenças em período de incubação e ainda nos casos de doenças sub­clínicas e estados especiais como gestação, superprodução, animais muito no­vos ou velhos. A imunossupressão faz com que ocorra baixa resposta vaci­nal do animal. Relacionado ainda ao es­tado orgânico dos animais podem ser ci­tadas as influências do meio ambiente, como fatores metereológicos extremos, como o frio, chuva e calor.

 

Algumas doenças e esquema de vacinação

 

No caso específico de ovinos e ca­prinos, algumas doenças são comuns aos bovinos, entretanto, algumas particularidades são ressaltadas:

u Raiva: recomenda-se a vacinação somente quando houver casos de do­en­ça no rebanho, iniciando-se o esquema vacinal com dois a três meses de idade, reforço após 30 dias e a seguir anualmente.

u Febre aftosa: as vacinas são as mesmas recomendadas para bovinos, entretanto, com dose diferenciada, devendo-se sempre seguir as especifi­ca­ções do laboratório produtor.

u Clostridioses: recomendam-se também vacinas polivalentes com as vá­rias espécies de clostrídios, na forma de bacterianas ou toxoides. Recomenda-se vacinar ovelhas três semanas antes do parto para permitir a ingestão de colostro rico em anticorpos específicos. Iniciar es­quema preventivo com a idade de 3 a 4 semanas e revacinar após 2 a 4 semanas, com revacinações anuais.

u Tétano: a maior ocorrência está associada às castrações, tosquia, corte de cauda e vacinações em geral. O esquema inicial deve iniciar aos dois me­ses de idade com revacinação anual. Recomenda-se, para a prevenção do tétano neonatal em cordeiros, a vacinação das fêmeas no final da gestação (últimas duas a três semanas). Obtém-se boa resposta com a vacinação inicial e revacinação na gestação. A imunidade no tétano é praticamente vitalícia, mas o esquema de revacinação de fêmeas durante a gestação protege as suas ­crias, até o momento da imunização ativa a partir da aplicação da vacina.

u Ectima contagioso: recomenda-se a vacinação nos caprinos e ovinos somente quando ocorrer a doença na pro­priedade, pois trata-se de vacina viva, aplicada por escarificação da pele gla­bra, onde o vírus se replica e induz imunidade. Tanto animais infectados naturalmente, como os vacinados podem de­senvolver a doença novamente, pois os Parapoxvirus apresentam subtipos, imu­nologicamente distintos. Desta forma, em casos de surtos, providenciar vacinação imediata de todos os animais com idade superior a seis semanas, procedendo de acordo com as especificações do laboratório produtor, com cuidado na manipulação, pelo risco de infecção humana. Um surto de doença em ovinos foi atendido e o controle foi obtido com va­­cinação comercial de todos os animais da propriedade, com idade permitida e controle de lesões utilizando-se formulação tópica, de iodoglicerinado.

u Leptospirose: os ovinos e capri­nos são susceptíveis aos mesmos so­rovares que acometem bovinos. Desta forma, os inquéritos soroepidemiológicos podem orientar quanto à prevalência dos sorovares na propriedade e qual a ­melhor vacina a ser utilizada. Da mesma for­­ma que para os bovinos, recomendam-se revacinações semestrais.

u Linfadenite caseosa: causada pelo Corynebacterium pseudotuber­culosis, a resposta predominante é a celular, e desta forma não há proteção total contra a formação de abscessos, mas há redução do número de lesões. Para os caprinos a resposta é menos efetiva. O esquema deve ser a partir dos dois meses com reforço após 30 dias, e a seguir anualmente. Fêmeas prenhes podem ser vacinadas três semanas antes do parto para garantir imunidade colostral, que é eficiente. Neste caso, os cordeiros, produtos das mães vacinadas, e nas propriedades com alta pre­valência, os animais devem ser vacinados a partir do 3º mês de idade.

 

Helio Langoni é professor adjunto do Departamento de Higiene Veterinária e Saúde Pública - FMV/UNESP-Botucatu (SP).






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