Os criadores de bovinos no Brasil conhecem a técnica de inseminação artificial (IA) desde a década de 50, quando foi, aqui, introduzida e incorporada na rotina do manejo reprodutivo dos seus rebanhos, pois sabem que esta é uma poderosa ferramenta para acelerar o melhoramento genético dos animais e, consequentemente, o aumento da produção da criação. A passagem do aplicador de sêmen no aparelho reprodutor da vaca é de fácil execução desde que o técnico seja treinado para isso, sabendo reconhecer a cérvix (correspondente ao colo do útero da mulher) da vaca por palpação retal e com a outra mão direcionando o aplicador para a abertura cervical, para que este passe através dos anéis cervicais. Eles estão abertos por consequência do cio da vaca e são manipulados pela palpação retal para que o aplicador chegue ao útero, local da deposição do sêmen. O resultado deste processo, quando bem realizado, pode alcançar elevada taxa de prenhez.
A situação atual da inseminação artificial em cabras e ovelhas difere do status alcançado na bovinocultura. Vários fatores contribuem para a menor utilização da IA em pequenos ruminantes, quando comparada às vacas. A primeira diferença entre estas espécies refere-se ao porte do animal. Enquanto na vaca a manipulação da cérvix pode ser feita via retal, em pequenos ruminantes - por motivos óbvios - este acesso é impossível a passagem do aplicador pela cérvix. A segunda diferença refere-se à anatomia da cérvix, já que na ovelha os anéis cervicais são tortuosos, portanto, a passagem do aplicador de sêmen torna-se impossível via vaginal, o que faz com que a técnica de eleição de IA nesta espécie seja a laparoscopia.
A cabra leva vantagem sobre a ovelha, pois sua cérvix é parecida com a da vaca. Cerca de 30% das cabras apresentam alguma sinuosidade do trajeto cervical. Nesta espécie, portanto, a inseminação artificial pode ser praticada com o auxílio do espéculo vaginal com fonte luminosa, que possibilita a visualização da abertura cervical para que o técnico possa encaixar aí o aplicador de sêmen, e com movimentos delicados, tentar atravessar todos os anéis cervicais para fazer a deposição do sêmen no útero, logo após o último anel cervical. Ultimamente, muito se tem falado sobre a técnica de inseminação artificial por tração cervical em ovelhas, como alternativa à laparoscopia. Com o auxílio de um espéculo vaginal, o médico veterinário visualiza a cérvix e a fixa com uma pinça, tracionando-a até a vulva da ovelha, e então com a mão há a manipulação da cérvix e passagem de um aplicador de sêmen especialmente mais fino. Em relação aos resultados destas técnicas, pode-se dizer que são bastante variados e dependentes de vários fatores. A detecção do cio da fêmea por rufião e a inseminação no momento certo são fatores decisivos para bom resultado de qualquer das técnicas citadas anteriormente.
Fêmeas jovens que nunca pariram possuem a cérvix menor e menos dilatada, dificultando a passagem do aplicador de sêmen em cabras, e em ovelhas quando utilizada a técnica de tração cervical, com isso o sêmen é deixado na cérvix, diminuindo as chances de prenhez. Em ovelhas inseminadas pela laparoscopia, o sêmen é diretamente depositado no corno do útero, portanto, a dificuldade de transposição da cérvix é eliminada. A qualidade do sêmen é outro fator importante para o sucesso da IA, sêmen refrigerado possui melhor qualidade que o sêmen congelado, com melhores resultados de prenhez.
Na prática, seguindo todos os cuidados necessários, a inseminação artificial em cabras pode atingir uma taxa de prenhez semelhante à da vaca, e em ovelhas os melhores resultados (acima de 60% de taxa de prenhez) são atingidos com a utilização da laparoscopia. A técnica de tração cervical em ovelhas ainda apresenta resultados de prenhez variáveis, merecendo maior aperfeiçoamento. Diante de todas estas variáveis, o produtor ainda deve se lembrar dos custos da IA em pequenos ruminantes. É certo que em cabras, a IA pode ser realizada com cio natural e por um tratador especializado, o que diminuiria custos. Em pequenas propriedades é, no entanto, comum o médico veterinário ser chamado para realizar a técnica em um lote de fêmeas com cio sincronizado ou induzido (o que reduz um pouco a taxa de prenhez em relação ao cio natural), assim, os custos aumentam tanto pela mão-de-obra como pelos hormônios utilizados.
Em relação às ovelhas, é bom lembrar que a laparoscopia é um método cirúrgico pouco invasivo e é realizada somente pelo médico veterinário. Diante deste quadro, é perceptível a diferença da tecnologia de IA aplicada em bovinos e pequenos ruminantes, entretanto, muitos técnicos têm trabalhado com afinco em várias frentes: centrais de inseminação artificial apareceram recentemente no mercado com a finalidade de oferecer ao criador sêmen de boa qualidade e bom preço. Além de orientação técnica, centros de pesquisa e empresas têm ajustado os protocolos de sincronização e indução de cio para que os animais possam ser inseminados em tempo fixo, médicos veterinários buscam aperfeiçoar as técnicas de IA para melhorar os índices de prenhez e assim difundir cada vez mais a tecnologia.
A Inseminação artificial pode ser utilizada por pequenos e grandes criadores, em rebanhos de elite e comerciais, para promover o melhoramento genético ou para produzir animais para abate através de cruzamento industrial, para diminuir a necessidade de aquisição de novos machos no rebanho, enfim, pode ser explorada em todos seus aspectos, em benefício a do criador de cabras e de ovelhas.
Sílvia Ferrari é médica veterinária e professora de Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Anhembi-Morumbi (SP).
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