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Ser ou não ser bode, eis a questão

- 10/05/2009

Belarmino era um fazendeiro muito esperto. Percebeu que todo mundo sofria produzindo animais para os açougues da região, brigando por conta de alguns centavos na arrobação. Nas feiras, era outro caraminguá de fazer dó! Ele não era disso e resolveu mudar sua criação: começou a fazer animais pra macumba, feitiçaria e artes iguais. No começo, vendia um ou outro, preto. Depois, foi cri­ando fama e logo era um grande fornecedor de cabrinália. Se o bode valia R$ 100 no peso, ele vendia por R$ 300 pra macumba. Negócio da China!

Para manter o negócio, mandava vir bode da Bahia e chegavam as cargas com bicho de todo jeito, preto, ­malhado, doente, aleijado, etc. Não importava, pois o “santo” não olhava essas coisas e Belarmino satisfazia o freguês de acordo com o bolso de cada um! Quando al­guém pedia preto e ele não tinha nenhum, dava um jeito, passava anilina, entregava só de noite, e coisas e tal, mas o freguês levava um bode pretinho da silva! O certo é que os despachos aconteciam nas encruzilhadas devido ao bem-querer de Belarmino e todos agradeciam.

Um dia, uma negra velha, em pleno ritual, recebeu uma voz do além, muito categórica:

- Minha filha, não tente me enganar de novo, com bode capão passando por bode inteiro. Eu quero é bode inteiro, de verdade, bode macho!

A macumbeira estremeceu, pois não se briga com o além, jamais. Conver­sou com o sobrinho de uma amiga, estudante de veterinária, que apalpou um bicho, já no terreiro, e deu logo o veredito:

- Já era! Passou pelo Dr. Burdizzo.

Depressinha ela compreendeu que o tal Burdizzo era nome do aparelho que castrava os bodes. Ou seja, o bode, ali, em seu terreiro, esperado como inteiro, também era capão. E já sabia: ia levar outro sermão do caboclo, no além. Como não tinha como consertar o além, tinha que consertar o aquém, ou seja, conser­tar o Belarmino.

 

 

 

Não havia jeito de trocar de fornecedor, pois só havia mesmo o Belarmino. Ninguém na região queria vender animal pra macumba. Então, ela tinha que tolerar, de algum jeito. Matusquelou um plano e esperou o dia da “Grande Festa” no terreiro, quando aproveitou para convidar Seu Belarmino, que, todo enfatiotado, compareceu, nem imaginando a quis­sumba que iria acontecer em seu costado.

Começou o ritual, muita cantoria, muita cachaça, fumaça, fogareiro dançando no ar, gente balançando, rapaziada cabriolando no chão, até que o braseiro foi aceso. Depois de três horas de esquentamento, ia começar a parte principal, com sacrifício de um bode.

A macumbeira, assumida pelo espírito do além, com voz rouquenta, come­çou a remelengar as preces e emendou:

- ... mas tem gente aqui que pensa em enganação às entidades do além e isso precisa acabar, hoje. Eis o que diz o Velho Espírito: se o bicho for castrado, que a bênção se transforme em maldição e caia na cabeça do fornecedor.

Dito isso, queimou pólvora, a can­toria atingiu o máximo, retinindo nos ou­vidos e Seu Belarmino apressou-se, apanhou o bode do sacrifício, saiu de fininho, dizendo que ia trocar por um mais adequado ao momento solene, e voltaria, já, já.

Não demorou meia hora e estava de volta, com um bode inteirinho, bem de acordo com o pedido do além. Foi assim que a Grande Festa varou a noite, rodando juras, orações, berebentices e - claro! - com carne de um bode que, dessa vez, era inteiro. Belarmino podia continuar até pintando os bodes, com várias cores, mas não iria mais castrar nenhum. pelo menos quando fosse entregar à macumbeira que estava ali tão pertinho!






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