Crescer é possível, mas falta o básico: fazer anotações,
gerar informações, dentro das porteiras para,
depois, atender o público fora delas...
A caprinocultura e a ovinocultura têm mostrado nos últimos anos ser uma atividade agropecuária de extrema importância para algumas regiões brasileiras. Reconhecidamente no Nordeste já mostrou sua potencialidade e sua promissão em ser uma atividade que se adapta bem às adversas condições climáticas da região. Não obstante no Nordeste, nos últimos anos, vem ocorrendo um crescimento significativo da ovinocultura principalmente nas regiões Sudeste e Centro-oeste, respectivamente 106,9% e 36,5% no período de 1999 a 2008, segundo o Anualpec-2008. Já a caprinocultura apresentou maior crescimento na região Sul (109%) enquanto o Nordeste, com 90% do rebanho nacional, apresentou redução de 8% no mesmo período.
O atual crescimento das atividades relacionadas a caprinos e ovinos está diretamente ligado ao crescimento e diversificação do mercado consumidor desses produtos. Este crescimento, entretanto, só não é maior por causa da desorganização da cadeia. O setor vive, apesar de todo crescimento, um descompasso de produção, qualidade, volume e frequência de colocação do produto no mercado. É por esses e outros motivos e que se tem visto a entrada de produtos importados para suprir essa carência no mercado brasileiro.
Como em todo setor produtivo, muitas são as dificuldades para a organização da cadeia de produção na caprino-ovinocultura. O que preocupa é que a desorganização do setor reflete, em parte, a desorganização dentro das propriedades. Por exemplo; para se firmar um contrato com comprador de carne ou leite, é fundamental garantir qualidade, volume e principalmente constância de fornecimento para que os consumidores possam ter sempre a disponibilidade do produto. Para que esse fornecimento aconteça, o produtor precisa se organizar dentro da propriedade para garantir ao mercado um produto que, além de atender as expectativas do consumidor, seja oferecido de forma frequente. Um produto homogêneo, em quantidade e qualidade tem faltado no mercado principalmente para os consumidores que se dispõem a pagar um diferencial por essas características.
Pretende-se neste artigo levantar a discussão de que a organização da cadeia começa também pela organização interna da propriedade. Tanto para ovinos, caprinos, bovinos, etc. - o que se percebe dentro das propriedades é um reduzido controle gerencial e organização. Não está se falando aqui em controles elaborados com programas de computador, mas simples anotações para que o gerente, produtor ou técnico tenha informações suficientes para planejar melhor a atividade para o mercado. É preciso melhorar as anotações e registros de informações realizados nas fazendas para se conseguir fazer os controles zootécnicos e econômicos. Sem esses registros fica difícil para o produtor ou técnico poder tomar qualquer decisão buscando planejar a atividade para suprir as carências mercadológicas citadas anteriormente.
Apesar de não ser nada inédito o que se discute aqui, pouco tem sido feito no sentido de trazer para a realidade dos produtores informações gerenciais que permitam a eles uma melhor organização e planejamento da produção e deste entendimento construir grupos de interesse para fornecer produtos com qualidade e em quantidade para determinado mercado consumidor.
A caprino-ovinocultura há muito tempo é tida como uma atividade promissora, mas a organização e estruturação da cadeia produtiva deve ser priorizada para, de forma conjunta, promover e difundir os produtos de caprinos e ovinos no Brasil até mesmo preparando-se para o mercado externo.
Capacidade técnica e condições climáticas não são no momento grandes entraves para a produção, mas, uma melhor visão gerencial acompanhada de um entendimento do mercado consumidor são aspectos crucias para a caprino-ovinocultura continuar despontando nacionalmente como opção de produção pecuária.
Vinícius Pereira Guimarães - é pesquisador DCR Funcap/Embrapa Caprinos - Fernando Henrique M. A. R. Albuquerque - é analista da Embrapa Caprinos.
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