A caprino-ovinocultura brasileira é determinada por alguns períodos bastante claros:
u 1) 450 anos de colonialismo, em que até criar ovelhas lanadas chegou a ser proibido, para não competir com a Inglaterra. Durou até cerca de 1930.
u 2) Disseminação da exploração de lã no Rio Grande do Sul, de forma familiar, culminando no brilhantismo da Expointer. Paralelamente, ocorria alguma exploração de peles no Nordeste.
u 3) Queda da lã no Sul e surgimento da revista O Berro no Nordeste.
u 4) Subida vertiginosa da ovinocultura deslanada, agora com veículo de divulgação. Surgimento das primeiras empresas de Biotecnologia, tendo à frente a Caroatá, em Pernambuco.
u 5) Importação oficial de Dorper, Boer, Damara, na Paraíba.
u 6) Surgimento dos primeiros exploradores de carne ovina, em escala, de forma empírica.
u 7) Abertura do Sudeste e Centro-Oeste para ovinocultura de elite. Inauguração da Feinco como polo agregador de novos empresários e investidores.
u 8) Mudança de rumo do Santa Inês de elite, para dar lugar à formação da base produtiva de carne. Busca da diversidade zootécnica para disputar um lugar mundial.
Com a “mudança de rumo do Santa Inês” encerra-se o período romântico que caracteriza toda pecuária (gado, equinos, etc.). Este período preocupa-se com a fixação dos tipos zootécnicos, por meio de detalhes raciais, grande porte a qualquer custo, premiações em exposições, festividades diversas. São os bons tempos, que deixam saudade. O cientista Kronacher denominou a esse tempo como o da “Zootecnia Poética”, enquanto os britânicos dizem que é o período dos “fancy points” (pontos-fantasia).
Depois, chegam os novos tempos, exigindo números realistas. O Brasil ainda importa carne? Absurdo! O Brasil não tem um deslanado com carcaça internacional? Absurdo. O Brasil não tem um lanado próprio? Absurdo. O Brasil não tem um sistema de escoamento de carne? Absurdo. O Brasil não tem projetos de pequenos frigoríficos e laticínios? Absurdo.
Os bons tempos, portanto, deixam para trás uma série de absurdos que, nos novos tempos, precisam ser consertados, rapidamente. Começa, então, o tempo de “congressos”, “simpósios”, “Câmaras Setoriais”, etc. para disseminar uma base doutrinária. A Ciência vai ocupando seu lugar.
Ao mesmo tempo, as regiões mais prósperas e de maior desenvolvimento, implantam seus polos de produção, como já acontece em São Paulo. Empresários abraçam a comercialização, importação e exportação de carne, augurando que os novos tempos chegaram para ficar.
Os rebanhos, agora, podem crescer de forma programada, pois há luz no final do túnel. Se, antes, vendia-se apenas animal de elite, agora vendem carne, leite, pele, estrume e outras especiarias produzidas por ovinos e caprinos. O país vai se inserir, rapidamente, no cenário mundial de produtores.
Antes disso, porém, é preciso aumentar o consumo interno de carne, dos parcos 700 gramas para algo como 5 a 6 kg/ano. Basta isso para o rebanho nacional sair de 25 milhões e chegar a mais de 60. Chegar a 100 milhões será fácil, bastando resolver a tecnologia de verminose na exploração intensiva e produzir carcaças realmente bem classificadas internacionalmente.
Nenhum país tem a condição de bem produzir como o Brasil, em pequenas e médias propriedades. Se existem 207 milhões de bovinos, nos pastos, podem existir 200 milhões de ovinos e caprinos. Por que não? Para tanto, é preciso sepultar os velhos tempos e inaugurar o advento dos novos tempos.
Nesta edição, aborda-se o momento de transição da raça Santa Inês que é levada a abandonar a antiga orientação e retornar à sua base, a assumir o seu chão mercadológico. Só a realidade conduz ao sucesso.
“Raça que não produz carne, nem leite, só serve para enfeite” - diz o antigo ditado. “Raça de exposição e leilão não é boa para o chão” - diz outro. Os ditados surgem de práticas centenárias, mostrando o caminho correto. O ser humano, todavia, muitas vezes, sucumbe à vaidade e ao lucro fácil, esquecendo a velha sabedoria.
Depois, vem a “queda” e, a seguir, vem o início do progresso fundamentado em boas práticas. Assim tem sido a história da humanidade. O ser humano aprende, principalmente, com seus erros, pois eles custam caro, nos velhos tempos. Seria mais fácil aprender com os livros, mas essa é característica dos novos tempos.
Link para esta p᧩na: http://www.revistaberro.com.br/?pages=materias/ler&id=1124