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Sangue azul

Autor: Octávio R. Morais - 03/10/2009

Por um lado, a obsessão pelo sangue azul; por outro, a ingenuidade em acobertar cruzamentos estranhos, chegando a registrar animais cruzados como filhos de pais da mesma raça, com objetivos escusos, para competir em pista e vencer com facilidade os outros concorrentes. É a falsa ciência entronizada.

 

 

As raças são tidas pelos criadores como algo intocável, quase sagrado. Os criadores defendem as raças de sua preferência e elas estão acima das outras, mas especialmente, estão acima dos ani­mais cruzados, como se fossem nobres diante de meros plebeus.

Tudo isso, é claro, vem da cabeça do homem. O fim das monarquias, das cortes e das nobrezas dinásticas parece ter deixado uma lacuna no coração das pessoas e hoje elas querem imprimir sangue azul em seus animais. Basta ver o nome de registro de cavalos, cachorros, carneiros e bois. Não são to­dos, mas uma boa parte deles carrega no nome a mesma pompa dos nomes dos antigos nobres. Quando não é isso é a genealogia: Fulano filho de Cicrano, neto de Beltrano nas duas linhas, fechado na linhagem Tal...

Eu prefiro ver as raças como recursos utilizáveis. As raças não devem ser intocáveis, sob a pena de não poderem evoluir. Preservar a “pureza” de uma raça só se justifica se ela, ao ser misturada com outras, correr o risco de perder algo essencialmente seu. Esse algo essencial também deve ter algum sentido, seja prático ou mesmo emocional, para ser preservado. Se alguém quer preservar o chifre espiralado do Merino, porque essa é uma característica muito particular e marcante da raça, que assim seja. Eu mesmo acho aqueles chifres muito bacanas.

A pureza por si só, no entanto, além de não existir não justifica ações apaixonadas em defesa da raça. Assim, o Merino mocho tem a mesma importância do Merino “padrão”, pois é a qualidade da lã que faz essa raça tão especial.

Muito se tem falado dos riscos da miscigenação de raças nacionais com ou­tras exóticas. Feita assim a esmo es­ta mistura pode ser mesmo muito prejudicial. Pode-se, por exemplo, perder a adaptação das raças naturalizadas aos nossos ambientes, resistência a doenças comuns no nosso meio, etc. No en­tanto, misturas geraram raças importantes. A mistura de duas raças, uma euro­peia (a inglesa Dorset) e outra africana (Persa-Cabeça-Preta) gerou uma terceira, a Dorper, hoje muito mais badalada que suas ancestrais.

A raça Corriedale, tão defendida pelos seus criadores e tão importante para o Sul do Brasil e para o Uruguai, des­cende da Merino, da Leicester e da Lincoln, esta última já quase extinta. A Targhee, descende da Cor­riedale com Rambouillet e Lincoln. O Ile-de-France tem também o Merino como antepas­sado. A Santa Inês descende da Morada-No­va, da Bergamácia, da Rabo-Lar­go e outras. Então, cadê as raças puras?

Antigamente era comum os livros se referirem a raças puras e cruzadas. A raça Merino sempre foi tida como pura. Mas pensando bem, quando ela chegou à Espanha, trazida pelos romanos ou pelos mouros, deve ter se miscigenado com ovinos locais. O Texel atual pouco tem dos ovinos da ilha de Texel, pois da­queles animais só se aproveitou a capacidade de sobrevivência em ambiente “hostil”, com forragem pobre e baixa disponibilidade de minerais.

 

 

 

O importante é procurar em cada ra­ça aquilo que faz com que ela se destaque e tentar preservar essas características. Por outro lado é preciso não ter medo de ousar e buscar em outras ­raças o complemento para aquilo que falta na raça em questão. Assim, se as coisas fossem feitas às claras e com técnica, não seria nenhum absurdo usar-se a Suf­folk ou a Hampshire Down para melhorar características na Santa Inês. O erro está em fazer este tipo de cruzamento e depois acobertá-lo, chegando a registrar animais cruzados como filhos de pais da mesma raça, com objetivos es­cusos, para competir em pista e vencer com facilidade os ou­tros concorrentes.

O uso honesto de cruzamentos para incorporar genes, e, consequentemente características, é plenamente possível e tem até nome: introgressão. Poderíamos buscar, por exemplo, maior proli­fi­ci­dade para a Santa Inês em cruzamentos com a Morada-Nova, selecionando-se as fêmeas cruzadas mais prolíficas e absorvendo novamente para a Santa Inês, sempre com a seleção para a pro­lificidade. Da mesma forma poderíamos usar, para o mesmo fim, o Merino Bo­o­roola. O Merino Booroola tem um gene (também chamado Fec B) que confere alta prolificidade, e muitos programas de melhoramento pelo mundo afora usam introgredir esse gene para raças locais. Depois disso, em algumas ge­rações tem-se novamente a raça local, porém com o gene Fec B. Essas coi­sas são quase impensáveis aqui no Brasil, pois quem “abre” a raça para cruzamentos dilui seu precioso sangue azul.

 

 

Octávio R. Morais é Pesquisador da EPAMIG






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