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Nativas. É a solução

Autor: Isaías Vitorino Batista de Almeida - 04/02/2010

Oriundos da Península Ibérica, os caprinos chegaram ao Nordeste brasileiro nas caravelas portuguesas no início do período colonial, por volta de 1535. Os portugueses trouxeram raças es­pe­cializadas na produção de leite, animais de longos pelos, de grande porte e que apresentavam enormes chifres. Eram animais de sangue puro, adaptados a ambientes de clima adverso ao semi­árido brasileiro. Os lusitanos abandonaram as cabras no semiárido nordestino e elas escolheram a vegetação da caatinga para sobreviver.

Diante da incompatibilidade que as cabras tinham perante um clima se­co, de vegetação espinhenta, tendo encontro com novos predadores, enfrentando extensas secas e sofrendo intensa seleção natural, através de cruzamentos entre si, elas adquiriram características genéticas valiosas ao longo de quase quinhentos anos, a saber:

- Rusticidade, proli­ficidade, pele de alta qualidade, uma extraordinária habilidade materna e longevidade.

- Perderam a função leiteira por con­ta de infecções mamárias, através de cortes sofridos nos espinhos da caatinga, onde as cabras mais leiteiras morriam, ficando apenas as menos produtivas.

- Diminuíram o porte para se com­patibilizar com o ambiente que ofertava pouco alimento, aumentando sua agilidade na caatinga e na fuga de predadores.

- Perderam os longos pelos, convertendo em pele grossa e pelos curtos, favorecendo a temperatura do corpo.

- Desenvolveram um incrível poder digestivo, alimentando-se de todas as espécies da caatinga.

- O tamanho dos ­chi­fres foi reduzido tanto nos machos como nas ­fê­­meas, como forma de melhor adaptação. Chama atenção o instrumento “chifre”, que pos­sui função de reserva mineral, como também equipa­men­to de dissipar calor e de defesa. As raças puras que foram introduzidas no período colonial apresentavam enormes chifres, onde os mesmos foram reduzidos, através do processo de seleção natural na caatinga pela compatibilidade com o ambiente. Isso é devido à fertilidade dos solos nordestino? Ou uma forma de melhorar a locomoção das cabras nas matas nativas? Caprino nativo de ponta grande, não é nativo e sim miscigenado com sangue exótico. Os povos do Nordeste definiram as raças de acordo com a ocorrência em cada região, deram nomes às cabras, a exemplo da raça Moxotó, onde os sertanejos de Pernam­buco representaram as cabras brancas, de orelhas flecha­das, de barriga, membros e dorso preto, de nome Mo­xotó, cuja representação provém do vale do rio Moxotó, local que es­sas cabras escolheram para sua sobrevivência.

 

Patrimônio genético

 

As cabras escolheram seu habitat, sobreviveram ao abandono na caatinga, formaram padrões raciais naturalmente, desenvolveram valiosas características genéticas, durante séculos foi uma das principais fontes de renda do semi-árido nordestino e hoje esses animais não são lembrados, nem representados, nas estranhamente menosprezados por boa parte do Nordeste.

Na década de 50, Octávio Domin­gues já chamava atenção para a importância do uso dos recursos genéticos locais, onde descreve e caracteriza as principais raças na­tivas brasileiras. As empresas, instituições de pesquisas aliadas ao Governo juntamente com as Universidades, não deram importância ao trabalho de Octávio, como também ao de Rinaldo dos Santos nos dias atuais. Não foram capazes de enxergar o tesouro genético das cabras nordestinas, e erroneamente passaram a desenvolver bicho grande, introduzindo, disseminando ma­terial genético exótico. Incentivaram o fim de bodes pequenos de ­orelhas pirenaicas, para substituição de bodes pernaltas de orelhas pendulosas, dizendo que a redenção do semiárido era o uso de animais de produtividade, de porte maior. Era o fim das nativas, que dis­cri­minadamente são chamadas de Pé-duro.

 

 

Graúnas

 

Preocupação atual

 

Daí então surgiram as mazelas provenientes do sangue exótico, disseminando doenças nas cabras sadias do Nordeste. Apareceram as empresas vendendo remédios, expondo que a ­solução era usar bicho grande aliado aos medicamentos. Mesmo assim as cabras persistiram em seu habitat, mostrando que ali era seu lugar, e continuaram se preservando. E o pobre do criador angustia­do com saudade de suas cabras ma­teiras, parideiras, que não tinham doença, anda usando os dinossauros produtivos, por causa da propaganda financiada pelos tubarões.

O sertanejo já está enxergando isso. Nas an­danças pelo sertão, nota-se o desabafo de criadores e a saudade das gloriosas cabras miúdas. Muitos de­poimentos surgem e se repetem como, por exemplo: “Quando en­tra a seca, a ca­bra que se vê gorda, é a Moxotó.” Por en­quanto os tubarões ainda não abriram os olhos para a maldição que percorre durante anos, dando continuidade a financia­­mentos de exposições, incentivando leilões e divulgando as malditas raças de grande porte.

Ainda bem que existem povos nativos que preservaram esses animais. Será que é tão difícil racio­cinar e enxergar, que es­sa metodologia não vai levar o povo do Nordeste a lugar nenhum? Desenvolver bicho grande, em semiárido, com má distribuição de chuvas e média pluviométrica de 300 mm/ano, não tem condição! Esses animais são altamente dependentes de suplementação com concentrado, de medicamentos, mão-de-obra, como também de estruturas físicas. Financeiramente é caro, dispen­dioso, abater caprino formado através de alimentos de base humana, é totalmente inviá­vel para o pequeno produtor, que tem sua principal fonte de renda proveniente da caprinocultura. 

É possível tentar mudar o pensamento das universidades, das insti­tuições de pesquisa, dos governantes e re­verter essa história. É preciso pa­rar esse crime de lesa-pátria, lesando as nativas.

Viva as nativas!






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