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Bicho verde, bicho criminoso

Autor: Dados básicos: Carlos Alberto Sarden - 03/03/2010

Não é exagero dizer que o agronegócio salvou o Brasil. Ao gerar superávits comerciais de US$ 42 bilhões/ano, deixou uma sobra de dólares que permitiu ao Brasil superar o velho problema do financiamento da dívida externa. Se não fossem as reservas, em grande parte geradas pelo agronegócio, o Brasil teria quebrado nesta última crise.

E quebrado, no caso, significaria recessão, eliminação muito maior de empregos, perda de renda e aumento da pobreza. Então, por que se combate tanto o bicho? Principalmente o bicho verde?

Além disso, o agronegócio fornece alimentos, especialmente a proteína da carne, para a população brasileira e no mundo todo. Ou seja, há razões de sobra para dizer que o agronegócio brasileiro é um caso de sucesso. Então, por que mexer em time que está ganhando?

Há algum tempo era também um sucesso ambiental. Foi no período da vaca louca, doença adquirida por animais confinados e alimentados com rações. Na ocasião, o boi brasileiro ganhou status de boi verde, duplamente saudável. Primeiro, porque só comia capim e, segundo, porque crescia caminhando pelos pastos, sendo mais musculoso e ­menos gordo.

Hoje o Brasil é o maior exportador mundial de carnes e um dos maiores em alimentos em geral. E o agronegócio tornou-se alvo preferencial de boa parte dos ambientalistas, internacionais e nacionais.

 

Acusações

 

As pastagens estão no lugar de matas nativas e parte delas se fez com o desmatamento da Amazônia. A atividade é poluente, ao usar máquinas e veículos motorizados, queimando petróleo, fertilizantes, adubos. O boi e a vaca emitem 50% de gás metano com seus arrotos e puns.

É uma conta marota! Outros cientistas dizem que os arrotos e puns dos bichos mal chegam a 17% e, então, a pecuária sequer deveria ser considerada como "ferramenta de desmatamento da Amazônia". 

O problema maior, então, parece ser a Amazônia, que o mundo pensa ser dele e não dos brasileiros. É claro que qualquer pessoa sabe que as pastagens e toda a agricultura do mundo estão no lu­gar de matas nativas, tanto quanto sabe que o boi arrota igual em qualquer lugar. Toda agricultura é uma intervenção na natureza e ponto final!

Na Amazônia, porém, há muitos ou­tros problemas. Há pecuaristas e assentados da Reforma Agrária que derrubam árvores para criar bois - que o Governo faz de conta que não vê. Há também grileiros e índios que derrubam árvores para vender como madeira - e, de novo, o Governo é meio surdo e cego. Tudo ile­gal e, não raro, violento - ou seja, o Go­verno é meio mudo.

 

 

 

Integração lavoura/pecuária abre enorme espaço para as carnes nobres.

 

É certo que isso não pode ­continuar e que o objetivo de Desmatamento Zero pode até ser um bom objetivo, mas não pode condenar a pecuária como um todo, que tem no Brasil graus de alta eficiência em várias regiões. O melhor caminho é recuperar pastagens e reduzir os puns dos bichos. Segundo a Embrapa Cerrados, se um pasto ruim com 0,4 cab/ha passar por correção e, depois, admitir 4,0 cab/ha, vai liberar outros 8 ha. Assim, a integração lavoura/pecuária aumenta a produtividade e beneficia o meio ambiente. A pecuária de bichos, portanto, é muito boa para o ambiente - apesar dos choramingos dos ambien­talistas.

O governo, posando de bonitinho, garante que a queda do desmatamento vai garantir uma redução de emissão de gases em 63,59%. Isso leva ao uso intensivo das pastagens já existentes ou degradadas, tornando-as responsáveis por 76% das ações de mitigações. Fácil de falar, mas exige muitas pesquisas e adoção de boas práticas. Será que o governo vai fazer valer a pena? Pres­sionando pecuaristas e os bichos, o governo vai errar, com certeza!

Já o pum dos bichos (vacas e ovelhas, principalmente) pode cair pela metade, ou seja, 50%, se forem criados em boas pastagens, com integração a lavouras. Ou seja, os bichos não são pro­blemáticos, mas as pobres pastagens, sim! Falta, portanto, estímulo, para correção de pastagens e adoção de integração de culturas.

Ah! o pobre homem - Os ambientalistas só pensam neles e nas verbas que os sustentam. Nenhum parou para perguntar: "qual é a ambição justa dos povos mais pobres"? Sem dúvida, a ambição superlativa é uma só:

- ter um consumo de proteína nos níveis do Primeiro Mundo.

Assim, os pobres serão mais saudáveis, morrerão menos, viverão mais, serão mais altos e... mais gordos. Ou seja, o mundo precisa e quer mais carne - e, especialmente, quer carne barata, como é a brasileira.

 

Custo ambiental

 

Dizer que a carne brasileira seria a mais cara do mundo se incorporasse no seu preço os custos ambientais é um argumento duvidoso e meio sacana. Tal argumento acredita que é preciso incorporar os custos ambientais em toda a atividade econômica.

Beleza! Então, vale perguntar:

- Quanto custaria uma passagem de avião Rio-São Paulo?

- Qual o custo ambiental num aparelho de TV?

- Num celular?

Isso quer dizer que, nessa sequência, esses produtos seriam acessíveis apenas aos mais ricos. Xiii!

 

Novos bichos

 

Os ambientalistas acreditam que há tecnologia para produzir mais carne em menos espaço, no caso brasileiro. Ou seja, que é possível colocar nas pastagens já existentes todos os bois e vacas do futuro e eles arrotarão menos e soltarão menos puns! Genial: nada como teorias na carcaça alheia. Esquecem que essa tecnologia precisa ser desenvolvida e implantada, e isso custa dinheiro. É preciso financiar essas inovações tecnológicas.

 

Redução fácil

 

Há teses segundo as quais o esforço de aumentar a produção é inútil, pois não haveria condições de produzir carne para uma humanidade em expansão. Ou, mais amplamente, que a Terra não suporta uma população crescente, com ambições de ter padrões de consumo semelhantes aos do Primeiro Mundo.

Se isso for verdade, qual a consequência? Que os povos mais pobres terão de abrir mão de aumentar seu consumo de tudo, de carnes a celulares e automóveis. Com isso, e convencendo-se os mais ricos a reduzir seu padrão, a coisa estaria resolvida. Agora, quem vai dizer para os pobres que eles não podem comer carne, nem ter carro?

E eis o imbroglio: precisamos de uma economia mais limpa e, sem dúvida, não podemos mais desmatar a Amazônia, mas também precisamos aumentar a produção de alimentos e de bens de consumo, pois nenhum ambientalista vai fuzilar parte dos humanos pobres do planeta. Se não vai fuzilá-los, então precisa alimentá-los.

Não adiantará ter uma economia limpa que não forneça alimentos e conforto aos povos. A transição para a economia limpa é, pois, extremamente complexa, porque é preciso manter um tipo de produção atual enquanto se criam e aplicam novas modalidades.

 

Hora da conta

 

O mundo inventou a agricultura, do­mesticou e criou os novos bois, porcos, cabras e ovelhas, frangos, aumentou extraordinariamente a produção de alimentos mais baratos, eliminou a fome para bilhões de pessoas. Criou o conforto da sociedade de consumo e - bem! - destruiu ambientes. Parte da humanidade ficou rica com isso, outra parte es­tá na classe média e outra continua pobre. E agora? Os ricos querem proibir os pobres de terem seu alimento, com a desculpa de que o ambiente deve ser preservado. Para quem? Ora, para eles: os ricos. Eles desmataram, destruíram, para ficar cada vez mais ricos e, agora, tentam evitar que pobres tenham acesso ao bife no prato, utilizando argumentos de ambiente. Ao proibir as proteínas, estarão, indireta e candidamente, reduzindo a população do planeta. Fácil. Nada como um exército invisível usando a bandeira do ambiente, do aquecimento global, etc. São, realmente, marotos, esses tais ambientalistas!

O certo é que - como disse a revista The Economist - mesmo que haja dú­vidas quanto ao processo de aquecimento global, vale a pena combatê-lo no mínimo como um seguro. Claro que a revista esqueceu o valor do seguro: ele não pode ser tão caro que inviabilize o próprio bem segurado.

Finalizando: não é a primeira vez que surge algum cavaleiro do apocalipse travestido de cientista afirmando que a população cresceu demais e vai faltar comida. Essa cantilena tem, como certo, um resultado: aumentar as verbas pa­ra a guerra, pois ela, sim, extermina se­res humanos como se fossem pragas, com eficiência! Os bois, frangos, bichos, cabras, ovelhas, entraram de graça nessa história típica de humanos.

 

Carlos Alberto Sarden - in "O Estado de São Paulo".  -Título original: "Boi verde, boi criminoso".






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