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APRENDENDO COM A AUSTRÁLIA

Autor: Livia R. Saccab - 14/12/2010

Um dia você sonha; em outro este sonho torna-se realidade - assim foram construídas as grandes obras do mundo. A Austrália parece um sonho, mas uma realidade assemelhada já vai se consolidando no Brasil.

 

 

 

 

 

A autora viajou pela Austrália, conhecendo os rebanhos e aproveitando para concretizar um sonho: diplomar-se como juíza! Abordada pela revista O Berro, respondeu a uma entrevista, com muita coragem.Carne de cabrito

 

Berro - Existe produção de cabrito de corte na Austrália?

LS - Sim; porém não tem destaque como a produção de cordeiros. Por outro lado, a produção de cabrito para corte já está padronizada, funcionando muito bem em toda cadeia, faltando apenas escala de produção para abastecer o mercado. O certo é que os australianos trabalham sintonizados e sincronizados com o mercado, há muito tempo. Uma vez que o mercado de cabrito de corte é bom, então eles logo estarão na frente, produzindo e vendendo.

 

Berro - Que raça caprina é mais utilizada?

LS - A raça que é economicamente justificável na Austrália é a Boer. Tanto o Boer puro-sangue, como seus cruzamentos com raças nativas têm aceitabilidade muito grande. Pelo jeito, ninguém segura o Boer! É raça que foi planejada para ter rendimento de carcaça, rusticidade, prolificidade e adaptabilidade a várias situações. Estes são alguns dos principais atributos do Boer. A facilidade de manejo, os valores reprodutivos e maternos também ajudam na opção pela raça.

 

Berro - Por que, então, no Brasil, há pessoas que fazem acusações contra o Boer?

LS - Existem Boer e Boer; tanto quanto existem pessoas e pessoas! Muita gente cria erradamente seus animais e fazem acusações. Qualquer animal doméstico é bom, pois é doméstico, ou seja, é feito para atender o interesse do Homem. Se a criação não dá certo é porque o Homem errou e não o animal. Existem muitas boas criações de Boer no Brasil, dando certo. Quem faz cruzamento com Boer acha maravilhoso. Há gente, porém, com o terreiro cheio de mestiços de Boer, falando mal da raça pura! Nenhum desses quer voltar a criar as antigas pé-durinhas!

 

Berro - Especificamente, o que os australianos pensam quanto ao Anglo-Nubiano na produção de cabritos?

LS - O Anglo-Nubiano é um caso meio complicado, por ser de dupla aptidão. Existem, então, as duas linhagens - corte e leite - para formar a “dupla aptidão”. No mercado realista de produção, como na Austrália, o que interessa são os números e, então, qualquer raça de dupla aptidão, ao ser colocada no pasto para produzir carne, comparando ao Boer, perde consideravelmente em diversos aspectos, como rusticidade e rendimento de carcaça. Na Europa, os zootecnistas liquidaram a dupla aptidão das vacas, justamente por isso: na hora de fazer contas, acaba perdendo para as raças especializadas de corte ou de leite.

 

Berro - O animal de dupla aptidão seria mais sensível, fraco?

LS - Em alguns aspectos, sim, pois a zootecnia diz que é mais fácil selecionar uma característica do que duas. Ao tentar selecionar diversas características, alguma coisa vai se perdendo no caminho. Parece que, na Austrália, o animal de dupla aptidão exige mais tempo de cuidado com sanidade, fica mais sensível nos aspectos de verminose, cascos, mastite, espessura de tecido, principalmente mamário, etc. Isso tudo leva à necessidade de mais mão-de-obra e cuidado com os filhotes.

 

Berro - Quer dizer que o Anglo-Nubiano não tem futuro na Austrália?

LS - É difícil pensar que não haja futuro, pois há bastante criadores. Há uma certa tendência de desenvolver linhagens leiteiras para aprimorar o queijo salientando seus pontos fortes da raça. ou seja, acho que o Anglo-Nubiano australiano vai sair da produção de carne rapidamente, preferindo a área de leite que tem excelente mercado na Europa.

 

Berro - Como é o produtor australia­no com relação ao sistema de manejo e formação de lotes?

LS - O australiano é um estudioso. Lê tudo, assina revistas, tenta saber de tudo. Usa exatamente o conhecimento da literatura e aplica no rebanho, no dia-a-dia. Os lotes são divididos por categoria e vivem 100% do tempo no pasto. Por incrível que pareça, na quase totalidade das fazendas não há cobertura no pasto, ou seja, não há sombra, e os animais ficam 100% do tempo sob o sol, chuva, ventos, granizo, etc.

 

Berro - Machos e fêmeas vão para o abate ou apenas os machos e em que padrão?

LS - Na Austrália, tanto machos como fêmeas vão para o abate, porém o volume de cabeças ainda não consegue atingir o necessário. A Austrália já tem o titulo de maior exportador de caprinos vivos, mas vive um paradoxo, pois não consegue abastecer seu próprio mercado interno. Hoje, o padrão na Austrália seria: abate por volta de 100 dias, com peso médio de 50 kg.

 

Berro - Na Austrália, como estão as raças Savana e Kalahari?

LS - São duas raças completamente diferentes. A Savana, devido ao sol intenso, pode apresentar problemas de câncer de pele e fragilidade de cascos, no regime extensivo australiano. Isto torna improvável sua criação se não desenvolvido em alto grau. Não acredito que venha a competir com o Boer, que já está aprovado. Por que mudar? Já a raça Kalahari não apresenta problemas quanto ao clima, mas há muitos poucos rebanhos e animais, não sendo possível fazer qualquer comparação com o Boer. De novo, então, o australiano não irá trocar a certeza pela possibilidade. As duas raças, portanto, têm um longo caminho a percorrer, na Austrália. Acredito que, no Brasil, estas duas raças tenham mais condições de prosperar, devido à versatilidade dos climas, regiões, etc. aprinos de leite

 

Berro - Qual sua observação sobre caprinocultura leiteira na Austrália?

LS - As raças leiteiras no continente australiano são basicamente seis. A maior é a Saanen, seguida por British Alpine, Anglo-Nubiana, Toggenburg, Australian Melaan e Australian Brown.

Fiquei muito impressionada pela capacidade produtiva das raças Saanen e Toggenburg. Tive oportunidade de ver uma cabra Toggenburg, com conformação quase perfeita, gastando 9 minutos em ordenha mecânica, em segunda lactação. Realmente impressionante! Na Austrália, o manejo é muito simples, porém com tecnologia.

 

Berro - O que pensa o produtor de leite australiano?

LS - Ah! pensam muito diferente. O australiano tem um pensamento diferente. Os criadores pensam que as cabras são “pets”. Isso é muito engraçado: eles amam as cabras e cabritas a tal ponto que, se pudessem, colocariam para viver dentro de casa!

 

Berro - Como está o mercado de produtos lácteos na Austrália?

LS - Não há leite suficiente, como no Brasil. A diferença é que, lá, o escoamento está garantido. Existe uma indústria de verdade por trás da atividade, funcionando muito bem, espalhando queijos, leite, xampus, etc. por todo lado. Onde houver um supermercado, ali haverá, com certeza, produtos de leite de cabra. Ao produtor, cabe apenas produzir.Primeira juíza internacional

 

Berro - Como você se sente como primeira juíza internacional de Boer?

LS - Não! Não sou a primeira juíza internacional. Sou apenas a primeira juí­za do Brasil com capacitação internacio­nal. De fato, sinto-me honrada em ser a primeira mulher brasileira, juíza com capacitação internacional, pois até hoje o sexo feminino não havia tido a chance de ter a sua representante. E mais! - fico mais envaidecida ainda, não só por ser a única mulher, mas por saber que não há nenhum homem brasileiro capacitado internacionalmente. O Brasil pode não ter um juiz, mas tem uma juíza!

 

Berro - Foi difícil conquistar o título?

LS - Foi, sim, pois o fato de ser estrangeira já é uma dificuldade. Depois, os idiomas eram muito diferentes. Na Austrália a língua portuguesa é totalmente desconhecida. Tive então que aperfeiçoar meu inglês, aceleradamente, para me adaptar à forma de vida completamente diferente da nossa. Além disso, havia o inverno de 10 graus negativos no corpo e na alma! Finalmente, havia a enorme distância, não só de espaço, mas principalmente de cultura. A Austrália é outro mundo!

 

Berro - Como é um curso de capacitação internacional?

LS - Bom! - tudo é na língua inglesa. O juiz internacional precisa se expressar em inglês. Então há um curso de terminologia própria. O curso foi conduzido pela Dra. Célia B. Smith que é capacitada pela África do Sul e por mais 2 juízas australianas durante o período de 3 meses. O momento culminante é a prova final - claro! - em que os animais são apresentados na divisão de machos e fêmeas. O aluno faz o julgamento, a classificação e, depois, a parte pior, com explicação detalhada dos pontos negativos e positivos.

 

Berro - Os australianos ou sul-africanos têm interesse em aprovar juízes internacionais?

LS - Claro que eles têm, mas não se preocupam se o aluno vai ser aprovado ou não! Só aprovam se o aluno merecer, mesmo. Julgamento é coisa séria, no exterior.

Produção de cordei

Berro - Na entrevista anterior você disse que a cadeia australiana está formada. Isso quer dizer o quê?

LS - Quando alguém deseja entrar na área de produção de cordeiros, já encontra tudo preparado. Há facilidade para fazer o investimento, pois o interessado tem acesso a todos os elos da cadeia. Tudo está organizado, desde dentro da porteira até o consumidor final. O investidor será apenas um investidor, seguindo uma cartilha já pronta e correta. Não há erro no investimento. Produzir carne de cordeiro, na Austrália, é coisa séria, com muitos órgãos envolvidos. Por isso é o país campeão de exportações.

 

Berro - No Brasil, muitos preferem apenas a produção de animais de elite. Qual a diferença com a Austrália?

LS - Na Austrália, o produtor entra já sabendo onde encontrar as informações de condução de manejo do rebanho, abate, distribuição, remuneração. Até para produção de animais de elite. Tudo já está organizado em órgãos públicos e privados. As indústrias e sistemas integrados funcionam perfeitamente bem. Basta o novato se inteirar e seguir a onda.

 

Berro - E o animal de alta elite?

LS - O australiano sabe que trabalhar com elite apenas, é um tiro no pé. O mais seguro é produzir seu rebanho de corte com alta qualidade e de lá tirar seus animais para competir em pista. A pista de julgamento fica como segunda atividade na fazenda; jamais será a primeira. A produção de carne é sua primeira e real segurança. Muito diferente do que acontece no Brasil, por ­enquanto.

 

Berro - Com relação à compra das carnes para consumo familiar, como se dá?

LS - Fácil, fácil. O negócio é facilitar tudo. Esse processo de facilitação já está pronto. Então, a carne está em todo lugar, a preço popular. Os produtos estão em todos supermercados, em cortes pequenos, com  boa apresentação. Sempre há explicação de como preparar o produto e, às vezes, já está temperado e pronto. Tudo facilitando a aceitabilidade.

 

Berro - O que o australiano pensa e pratica sobre manejo e tecnologia veterinária?

LS - O australiano pensa que o desenvolvimento do rebanho é o desenvolvimento de técnicas corretas. É uma questão cultural: ele sabe que apenas quem estuda sabe desenvolver o rebanho corretamente. Quando surge algum problema, o australiano não pensa que é doutor; ele vai correr atrás de um doutor especialista veterinário.

 

Berro - E sobre multiplicação intensiva de animais de elite?

LS - As técnicas de reprodução são usadas corretamente e implantadas como rotina. Os animais são estacionais e precisam de hormônios. Usa-se inseminação artificial e, em algumas fazendas, também a transferência de embrião para agilizar a melhora do rebanho. 

 

Berro - Qual a importância econômica dos ataques de predadores, como cães e raposas?

LS - Antigamente na Austrália aconteciam mortes consideráveis nas fazendas. Hoje com a associação de diversas técnicas as perdas devido a predadores ficaram quase zeradas.

 

Berro - O que o australiano pensa de uma associação?

LS - Na Austrália, toda associação funciona muito bem, seguindo a própria atividade que também funciona muito bem. A associação e entidades ligadas à área sempre promovem cursos de aprimoramento para os criadores e técnicos. Não existe a vaidade entronizada, como em certos casos do Brasil, em que pessoas ocupam cargos somente porque são ricos. O australiano já aprendeu que não adianta colocar na associação quem tem a atividade como hobby. Só é eleito quem deseja que a atividade seja cada vez mais rentável. Em uma chapa de 10 pessoas, pode-se dizer que 8 vivem da ovinocultura como primeira e única fonte de renda.

 

Berro - O que você viu de diferente na Nacional do Dorper 2010 na Austrália?

LS - Aconteceu em Setembro, em Dubblo, com 371 animais em pista, sendo 206 machos e 165 fêmeas, oriundos de 31 diferentes criatórios. O juiz Mr. Theuns Botha, da Africa do Sul, teve um duro trabalho para escolher a Grande Campeã Black-Dorper Bellevue e Grande Campeão Black Dorper Alurama 092393, Grande Campeão White-Dorper foi Amani 8089 e Grande Campeã White Dorper Kaya White 090109.

 

Berro - O que teve grande peso no julgamento?

LS - O juiz, Theuns Botha, foi categórico em julgar a sexualidade. Ficou muito claro que a fêmea precisa ter feminilidade e o macho precisa ter masculinidade. Explicou, várias vezes, que não adianta pensar em peso, volume, carcaça, etc. - sem pensar, antes, na reprodução. O bom rebanho, segundo ele, é aquele em que a ovelha é muito feminina e provavelmente será boa mãe. Ao mesmo tempo, o macho é muito masculino e provavelmente será bom reprodutor.

O interessante é que o julgamento foi rápido, coeso e categórico, com aprovação quase unânime.

 

Berro - Houve algum leilão na Exposição Nacional?

LS - Sim. Após a disputada pista teve o leilão Nacional da raça. Com 260 lotes, sendo 182 machos e 72 fêmeas. É muito animal para um leilão só. Por incrível que pareça, este grandioso leilão teve duração de apenas 4 horas. Leilão não é festa, é lugar de comprar genética.Austrália versus Brasil

 

Berro - Se um australiano viesse criar, no Brasil, o que ele faria?

LS - Acho que ele iria utilizar o Dorper e o Boer como raças maternas, pois são receitas já comprovadas em muitos países. Em cruzamento de ovinos, acho que ele iria optar pelo Santa Inês, devido aos atributos de fertilidade e habilidade materna. Em cruzamentos de caprinos, acho que ele iria optar pelo Anglo-Nubiano e outras cabras nativas, devido à sua rusticidade e prolificidade, mas neste caso acho que ele iria correr atrás de muitos estudos para chegar a uma melhor decisão.

 

Berro - Como você sintetiza o comportamento do criador australiano e do brasileiro?

LS - Na Austrália, a ovinocaprinocultura é uma atividade economicamente viável e real. Para boa parte das famílias australianas, é a primeira e única fonte de renda. Na Austrália vivem exclusivamente e trabalham para cada vez ter mais rentabilidade, desenvolvendo a cadeia produtiva inteira. Na Austrália, portanto, a festa e o ego individualista ficam num plano inferior. No Brasil é bem diferente, nós gostamos de festa e muita gente gosta do ego, disputando vaidades. Na Austrália há provas zootécnicas disponíveis para todos e, então, o resultado sai de dentro da porteira. O Brasil vai chegar lá.

 

Berro - Quer dizer que a Austrália é o paraíso e o Brasil é quase o purgatório?

LS - Bom! Nós achamos que sabemos muito, mas a realidade explode na cara da gente. Nós temos muito que aprender para formar nossa cadeia produtiva. Os australianos já fizeram isso. Claro que eles têm governo que sempre apoiou essa importantíssima atividade! Nem tudo, porém, são belas flores lá na Austrália. O Brasil tem muitas vantagens em cima daquela terra de cangurus. Se juntar o conhecimento deles com o nosso grande coração, acho que o Brasil pode superar - e vai superar - todos os países do mundo, incluindo a Austrália. O futuro é aqui e não lá. O mundo inteiro sabe disso!

 

Lívia R. Saccab - é veterinária. - Informações: vet_livia@hotmail.com






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