A vaca sempre foi sagrada na Índia, mas o uso da urina e do esterco em dezenas de utilidades vai aproximando a vaca da cabra, rapidamente.

O culto à vaca sagrada da Índia ("gaumata") está sendo salvo e justamente por conta de seus movimentos intestinais e da bexiga, ou melhor, pelo que que a vaca não conseguiu reter no organismo. Funcionários do Gaushala Kanpur Society (KGS) estão enriquecendo com produtos à base de urina e esterco do gado. Isso quer dizer que a vaca e sua urina podem ter algum sentido econômico muito mais profundo do que se pensava! A KGS, ligada à BJP e RSS vem registrando aumento em seus negócios, provando que tem nas mãos um mercado real de grande abrangência.

O uso do esterco, combinado ou não com a urina, vai longe. A KGS vende desde mata-mosquitos até loções pós-barba. Toda sua linha de produção, porém, vai se tornando pequena diante do "Goloka", prodigioso refrigerante que é uma mistura de urina de vaca (a 5% do total). A ideia surgiu quando Baba Ramdev percebeu o tombo da Coca-Cola e da Pepsi no mercado indiano, abrindo caminho pa­ra um refrigerante tipicamente indiano.

Beber urina? Pura? Não! O refrigerante Goloka é uma mistura de ervas (Tulsi, Brahmi, Shankhpushpi) com urina, em sabores apreciados como laranja e limão. Rapidamente o refrigerante ganhou o nome de "Cow-ka-kola" (pronuncia-se "cau­ca-cola), que significa "coca-cola oriunda de vaca". Há, porém, quem defenda o consumo de um copo diário de uri­na de vaca, desde que seja uma vaca reconhecidamente correta!

 Empreendimento - O esterco e urina são de 1.500 vacas mantidas em quatro filiais. Fundada em 1888, a KGS tem também uma linha que mostra que os touros podem ser uma "fonte de energia alternativa". Nada de mirabolante: apenas uma junta de bois castrados virando uma roda que pode gerar muita coisa. Por exemplo: pode colocar em fun­cionamento uma bomba de água, um debulhador, ou simplesmente funcionar como bateria suficiente para 120 lâmpadas. Imagine agora milhares de bovinos gerando energia elétrica para as cidades! O rebanho da Índia é de 180 milhões de cabeças, suficiente para gerar muita energia.

Rajnath Singh, presidente da BJP, de Nova Delhi, inaugurou uma usina de biogás em Kanpur, outros já fabricam papel a partir do estrume de vaca, outros geram eletricidade. O boi, ou vaca pode ser uma usina de fabricar dinheiro!

Qualquer animal ou qualquer vaca serve? Nada disso. Apenas vacas legítimas indianas (Bos indicus), que são carinhosamente chamadas de "mata". As raças estrangeiras (Holandesa, Jersey, etc.) são apelidadas de "mausi" e não merecem reverência, pois não fazem boa urina. Búfalos, chamadas "buas" merecem desprezo. Cabras e camelos, por enquanto, não figuram em lugar algum, mas estão na fila. O secretário da KGS, P. L. Toshniwal, explica: "nunca uma va­ca indiana vai estar perto de uma lata de lixo, pois ela sabe a hora de comer e onde comer. Ela é chamada por um carinhoso "mmmaaa", e jamais o desprezível "bhaaaa" dos estrangeiros. Além disso, 15% do material engolido pelas vacas estrangeiras ficam na barriga, enquanto as vacas indianas digerem completamente o alimento".

O uso de urina e esterco vai longe: já está sendo desenvolvido um absorvedor de radiação para uso em computadores, celulares, etc.

 Urina-remédio - O rótulo da garrafinha diz: "Gomutra Arka é de fácil digestão, um bom aperitivo, aumenta o poder do cérebro. É benéfica para tosse, constipação, distúrbios abdominais, doenças de pele, problemas cardíacos, câncer, feridas, febre, lepra, asma, inchaço, distúrbios urinários, icterícia, hemorroidas, doenças reprodutivas, etc.

O governo de Uttarakhand (Lucknow) compra 5.000 litros de urina de vaca todos os dias, para vender às farmácias Ayurveda. Já pensa em fundar um mercado livre para abrigar criadores de vacas e empresários compradores de urina, a $ 5 rúpias por litro.

O programa ganhou fôlego em Kalsi. A próxima fase será em Srinagar, onde cerca de 1.900 cooperativas de leite serão contratadas para vender urina e esterco das vacas. Os especialistas já afirmam que a urina é diferente para cada espécie de raça. As raças "Badri" apresentam urina rica em resíduos vegetais; já as vacas de planícies apresentam urina de menor valor.

Rakesh Bahuguna, químico ayurvédico, diz que "a urina de vaca tem o mesmo potencial que o Ciplox e Amoxicilina para enfrentar doenças". Por conta disso, o Governo pensa em criar um Instituto de Pesquisa para urina e esterco de vaca.

Muita coisa pode ser feita com esterco e urina de vaca: pasta de dente, xampu, sabonete, pó facial, loção de barba, bálsamos, biscoitos, incensos, fenila, mata-mosquitos, cinomose. Além disso tudo, o esterco com urina é útil como barras (biscoitos) prensados à mão, vendidas como fonte de combustível, resistente à água e afasta a radiação.

Agora surgem as velhas histórias hindus, em que os anciãos borrifavam urina de vaca nos alimentos, doces, etc. Bem como histórias de marajás que bebiam um copo, ao amanhecer, da urina de alguma vaca de prestígio.

 Mercado livre - De repente, há produtos de urina e esterco em todo canto, na Índia, curando quase tudo. É fácil encontrar mais de duas dezenas de tônicos, poções, pílulas e grande linha de cosméticos. Uma das marcas famosas é "Goratna", que significa "joias de vaca". Um creme muito procurado é o que, passado no rosto, liquida manchas, suaviza a pele, etc.

Na realidade, a velha ciência hindu está ressurgindo, com produtos à base de manteiga, leite, requeijão, urina e esterco. Toshniwal diz: "está havendo um grande boom no mercado, pois os indianos perceberam que os produtos modernos não são bons e provocam um grande buraco no bolso".

O produto mais caro, por enquanto, é a "arca de sanjivani", uma poção de urina transparente, que cura o próprio câncer. Custa 80 rúpias (US$ 1,80) para a dose mensal. Engarrafado em plástico, sem qualquer data de validade.

Outro produto é o "ghanvati Kamdhenu", comprimido multiuso que cura doenças do fígado, diabetes, hemorroidas e asma!

A urina de vaca indiana tem até patente internacional registrada nos Estados Unidos - pelo Ministério de Ciência e Tecnologia da Índia.

Em muitos países é conhecido o uso de estrume líquido para amaciar e curar manchas do corpo. A urina, por seu lado, pode ter valor terapêutico, se suficientemente preparada. Muito mais se espera, no futuro, sobre urina e esterco de vacas e cabras, duas espécies que selecionam o que comem. Pelo menos, na Índia.