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MELHORAMENTO SÉRIO, OVINOCULTURA RESPONSÁVEL

Autor: Octávio R. Morais - 11/03/2011

A estratégia global para a ovinocultura responsável é visível, mas parece que é difícil de ser cumprida no ambiente cultural brasileiro, com animais em regime de pasto, lucrativamente.

 

 

Em 2006 organizei, em Belo Horizonte, um curso de produção e melhoramento de ovinos de corte. Já mencionei o curso em outros artigos, mas tratou-se de um curso aberto para técnicos e produtores. O curso contou com a participação de professores da Nova Zelândia e do Reino Unido e teve participantes de oito estados brasileiros.

Bruno Santos foi um dos alunos do curso e, aproveitando os contatos daquela época, passou um período na Nova Zelândia, trabalhando com o Dr. Peter Amer e convivendo com outras feras do melhoramento genético daquele país, e por que não dizer, do mundo.

Estamos frequentemente nos escrevendo por e-mail e fiquei muito feliz ao receber o relato que transcrevo agora para os leitores:

"Acabo de voltar da propriedade do Sr. Peter Black. Fiquei simplesmente impressionado com a qualidade dos animais deles. Eles possuem 900 ovelhas Texel registradas na propriedade, e um total de mais de 10 mil animais em toda a fazenda.

Trata-se de um senhor de mais de 80 anos e de sua esposa, que nasceram no meio das ovelhas, e ele é um zootecnista aposentado do AgResearch, empresa de pesquisa da Nova Zelândia. O rebanho Blackdale é o que mais coloca animais nas análises entre rebanhos na Nova Zelândia e nos testes de progênie nacionais, justamente devido ao tipo de animal que eles produzem, que é totalmente diferente da Austrália, Alemanha e Estados Unidos. Trata-se de animais de ótima estatura, equilibrados, nem altos, nem baixinhos como os holandeses, muito próximos aos franceses, com médias de taxa de nascimento da ordem de 200%. Todos os carneiros vendidos como reprodutores são oriundos de partos duplos e triplos, todas as borregas que são introduzidas no rebanho, todos os anos, também são oriundas de partos duplos e só permanecem no rebanho se tiverem partos duplos na primeira cria, é uma pressão de seleção absurda! Neste rebanho não se usam animais altos e pernaltas, pois não suportam o severo clima, a propriedade fica no extremo Sul da Ilha Sul, onde os ventos são muito fortes e as temperaturas médias no inverno abaixo de zero, com muita neve. Os verões são bem quentes e os animais permanecem 100% do tempo no campo. Nenhum animal recebe con­centrado em nenhum momento da vida.

O Texel aqui na NZ é muito popular, e, devido a este fato, muitas linhagens foram definidas, e alguns criadores não se importam com características reprodutivas (uma vez que são considerados "terminal sires"), porém, criadores como o Mr. Black estão tendo muito sucesso em sua seleção criteriosa para reprodução, crescimento e qualidade de carne. Este ano ele irá vender 800 reprodutores a preços médios de US$1500,00, bem acima da média nacional! Todos os carneiros para coleta de sêmen serão reservas de seu plantel e os cordeiros da última estação de nascimento que ele manterá na fazenda (ou seja, os melhores EBVs.).

Hoje eu tive uma verdadeira aula de ovinocultura séria, responsável e lucrativa. Mr. e Ms. Black ficaram abismados com as histórias brasileiras a respeito de exposições, preços absurdos e etc."

 

u Realidade - Fiquei feliz por ver que o Bruno está vivenciando aquilo que apregoamos: uma ovinocultura séria, voltada para resultados econômicos da produção. Fiquei triste porque vejo o quão longe estamos de alcançar tal patamar. Ainda outro dia assisti na televisão a mais um recorde mundial de preço pago por um carneiro, é claro, um carneiro brasileiro. Não quero discutir aqui as condições em que esses recordes são alcançados, mas o que aqui no Brasil parece uma prova incontestável do sucesso da nossa ovinocultura, lá fora parece um absurdo e é até motivo de chacota.

Muita gente pode criticar a comparação entre Nova Zelândia e Brasil, dizendo que lá os pastos são de muito melhor qualidade e que por isso não é necessário fornecer concentrados e que as ovelhas assim conseguem criar dois cordeiros. Mas se pensarmos nas nossas realidades brasileiras, e elas são muitas, veremos que cada uma tem suas vantagens e desvantagens e que nós não devemos nos fazer de vítima para encobrir nossa incompetência. Temos animais que sobrevivem em situações de extrema penúria de alimentos e ainda assim produzem. Porque não selecionar, dentro dessas raças, animais mais produtivos, sem perder de vista essa rusticidade.

Será que alguém já parou para pensar que a ovinocultura e a caprinocultura nordestinas existem há séculos e que, na mão do sertanejo, elas são ­atividades economicamente viáveis? Quem ganha dinheiro com animais "de pista", a não ser com a venda de reprodutores? Porquê será que a ovinocultura praticada para esses animais não funciona para as condições de pasto? Pelo simples fato de que a genética que vem sendo selecionada não é compatível com a necessidade real do produtor.

Já escrevi algumas vezes nesses meus artigos: as principais características a serem selecionadas em ovinos de corte, para as condições do mercado brasileiro, são a prolificidade, a sobrevivência e o ganho de peso dos cordeiros.

Isto não é um "chute", mas resultado de estudos do valor econômico das características. Outro ponto a ser consi­derado é que o custo de se oferecer 100 gramas por dia de ração comercial para as ovelhas, somente nos períodos de terço final de gestação, e em três meses de lactação, mais a ração dos cordeiros (por volta de 100 gramas por dia por três meses), equivale à metade de todo o custo de alimentação. Estou falando de 100 gramas, não de um quilo, um quilo e meio, como se oferece para animais de pista.

Assim me parece que o que faz o Mr. Black é bem razoável para o Brasil: selecionar ovelhas com bom desempenho em regime de pasto, prolíficas e que cuidam bem de seus cordeiros.

Por outro lado me parece também razoável a atitude dos outros produtores neozelandeses, que se preocupam em utilizar carneiros terminadores, independente das características maternas da raça. Tudo isso aponta para a seleção de raças maternas e uso de raças paternas terminadoras.

A Santa Inês, que é a raça mais numerosa, deveria estar sendo selecionada para raça materna, assim como se deveria multiplicar e selecionar raças como a Morada-Nova, Crioula, Somalis. Para imprimir ganho de peso, já existem por aí, bem selecionadas, várias raças exóticas. Mas cá estou eu de novo, sonhando com uma ovinocultura organizada no Brasil. Isso é coisa de neozelandeses, de uruguaios, de franceses, de ingleses, de espanhóis, de escoceses, tudo gente sem juízo.

“Ajuizados” somos nós, que sele­cionamos beleza e vendemos caro esperanças vazias.

 

Autor: Octávio R. Morais – Pesquisador da EPAMIG






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