Página Inicial BUSCA no site












Estaremos em recesso no perí¯¤o de 21 de Dezembro a 10 de Janeiro.
Os pedidos realizados nesse perí¯¤o ser㯠processados apã³ essa data.

Feliz Natal e um Prã³°ero Ano Novo!


Matérias



Lua-de-mel a três

- 08/06/2011

Zecão estivera noivo por tempo demais e, um dia, não tendo como enrolar mais a Zefinha, aproveitou a festança do povoado para se casar, como tantas outras pessoas. Foi um grande dia para todo mundo, grande parte das casas estava em festa, pois novas famílias estavam surgindo, sendo motivo para festejo e comilança.

Junto com a comilança vem a bebedeira e Zecão despediu-se de amigos do peito, amigos de antigamente, amigos surgidos do nada, sem negar qualquer voto de bom casório com boa talagada.

Como de presente, muitos deram seus presentes, mas Zecão bateu pé-firme com o Coronel Honório: "uma vez o senhor mandou eu escolher uma cabra e eu disse que chegaria o momento, pois chegou. Eu quero aquela que está no curral atrás da igreja, de pescoço branco".

Claro que era a preferida do coronel, mas palavra era palavra e a cabra foi para as mãos de Zecão, já na noitinha, que logo a levou para o automóvel.

Depois do último gole e, meio de porre, colocou a cabra vistosa no banco de trás e percebeu que faltava algo: a noiva.

Em seu juízo, as duas coisas eram muito importantes em sua vida: a cabra e a noiva. Por isso, não titubeou e voltou para buscar Zefinha em seu vestido deslumbrante, em seu dia mais feliz da vida.

 

 

 

Ao ver que havia algo mais no automóvel, Zefinha fez cara de quem não gostou, mas percebeu que não adiantaria conversar, dialogar, discutir, nada! E aboletou-se no banco dianteiro, no meio das amigas que festejavam a partida do jovem casal.

Exatamente dez minutos de estrada esburacada e Zefinha resolveu falar:

- Você é meu herói, meu príncipe, mas bem seria melhor um cavalo branco do que uma cabra branca.

Zecão, já prevenido contra possíveis ataques, foi ligeiro na resposta:

- Esse automóvel tem um monte de cavalos brancos, mas nenhum príncipe saiu do casório levando uma cabra tão bonita. Isso é motivo para festejar.

Zefinha percebeu que ainda tinha chance e continuou:

- Cabra pode até ser negócio bom, pode até render um bom dinheiro, mas cheira mal, mesmo...

- Cabra não cheira mal, cheira esquisito, só isso. Bebê, sim, cheira mal, mas todo mundo quer ter um, não quer?

- Bom, eu continuo querendo o bebê e achando que a cabra cheira mal...

- Mas não vai dar para jogar a cabra fora, pois a noite está grande lá fora.

- Pelo menos ela podia cheirar mal lá longe e não tão perto...

- Mas estamos dentro do carro e ela está lá atrás, bem longe.

- Que nada! Essa danada está bufando bem em meu pescoço...

- Ora, Zefinha, um dia você vai dar risada dessa história, pois a cabra é bonita de fazer inveja.

- Pode ser, mas olha só, está mastigando o babado do meu vestido...

- Ora, isso é apenas curiosidade das cabras, logo passa.

- Passa uma ova, ela já lambeu meu braço uma porção de vezes...

- Isso é porque você está muito linda e com sabor de festa e a cabra percebeu; ela é esperta.

- Esperta? É uma cretina, comeu meu berilo enfeitado de flores. Olha como ficou meu cabelo!

- Mas, Zefinha, é só uma cabra procurando se ajeitar dentro do carro.

- E eu? Sou o quê? Sou uma noiva misturada com uma cabra dentro duma caixa...

- Logo vamos chegar e vamos começar uma grande noitada com a noiva mais charmosa do mundo. Você vai esquecer tudo.

- Eu quero é ver o que você vai fazer com a noiva mais lambida do mundo.

- Ora, Zefinha, meu amor vai muito além dessas coisas pequenas.

- Pequenas? A miserável botou as patas no meu ombro, está comendo minha grinalda. Eca! Lambeu minha cara...

- Veja, Zefinha, já estamos chegando e eu só quero me afogar em seu perfume, como o homem bem casado e mais sortudo do mundo.

- Perfume? Eu estou com o cheiro dessa cabra babenta, malcriada e trelosa...

- É só mais um minutinho.

- Mais um minutinho e eu acabo com esse casamento a três. Que homem burro. O marido dirige e conversa e a cabra se aproveita da noiva. Assim não dá. Casei com um homem e não com uma cabra lambisgoia.

- Olha a porteira, chegamos. Viva nossa casinha, só da gente.

Foi então que aconteceu o pior. Zecão desceu, como manda o figurino, deu a volta, abriu a porta da noiva, tudo muito estudado por longos anos, para dar início a uma grande noitada de felicidade.

Ao pegar Zefinha nos braços - como manda a tradição - tentando um beijo apaixonado, eis que o braço da noiva cai ao mesmo tempo em que a cabra enxerga o buquê de flores que, até agora, estivera longe. Num segundo, a cabra dá um salto, saindo do carro, abocanha o buquê e desembesta pela escuridão.

- Meu buquê!...

Foi a gota d'água.

- Ser lambida e mordida, vá lá, mas roubar meu buquê, não e não!

- Mas Zefinha, é só uma cabra, não a deixe estragar nosso grande amor.

- Ah! Nosso grande amor vai começar agora, com um buquê, sim senhor. Eu quero meu buquê de noiva. Vosmecê vai sair atrás dessa cabra e voltar pra casa com um buquê. Não tem amor nenhum, hoje, se não voltar com um buquê.

- Mas, Zefinha, a cabra ­escafedeu-se.

- Não tem mas, nem mas, adeus! Não vou começar minha vida de mulher casada sem um buquê de flores. Ache a cabra e pegue meu buquê.

Bateu a porta na cara do noivo, cheia de raiva no dia que era o mais santo de sua vida.

No meio da escuridão, Zecão acendeu uma lanterna para ver se podia encontrar a cabra. Depois de algum tempo, desistiu. Passou então a juntar qualquer coisa que parecesse flores, para montar um buquê, no meio da Caatinga. Flores não havia, mas depois de algumas horas Zecão havia juntado um buquê de folhas secas, gravetos e babugem, para mostrar seu grande amor à noiva enfurecida.

Até hoje, Zefinha conta que foram precisos três buquês para convencê-la a abrir a porta, já de madrugada.

 






Link para esta p᧩na: http://www.revistaberro.com.br/?pages=materias/ler&id=1612


Desenvolvido por Spring
rea do usuᲩo

 
Cadastre-se para acessar as mat鲩as restritas, clique aqui.

Esqueci minha senha!