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Porque o Sincorte é diferente

- 08/09/2011

Bem antes de acontecer, este Sincorte foi submetido a uma bateria de perguntas críticas que foram respondidas por Wandrick Hauss, evidenciando que, além de ser o maior evento acadêmico da América do Sul, também aciona ferramentas políticas e institucionais de interesse da sociedade.

 

 

 

Dr. Wandrick Hauss, organizador do Sincorte, na Paraíba.

 

 

u O Berro - Sem dúvida, o Sincorte é o maior evento técnico cientifico e do agronegócio da caprino-ovinocultura do Brasil, reunindo leite, carne, genética, couro, moda, culinária, etc. Até por isso, seria possível verificar os efeitos do Sincorte na vida prática de alguma região?

WR - É possível sim. Nas últimas quatro edições, o evento proporcionou cerca de 120 palestras e mais de 10 debates em diversos segmentos do agronegócio da ovino-caprinocultura, além de 712 trabalhos científicos, em forma de resumos expandidos. Certamente tudo isso promoveu transformações e incorporou ideias e processos nos sistemas de produção praticados no Brasil. Também houve mudança prática sim, principalmente nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, naqueles criadores com visão mais empresarial. No entanto, isso não tem sido observado com os pequenos produtores do Nordeste, muito embora existam casos isolados de sucesso na região, com práticas simples de produção de leite e carne.

 

u O Berro - Há um abismo entre o dia-a-dia na propriedade sertaneja e a alta tecnologia divulgada em revistas e televisões. O Sincorte tem conseguido aproximar essas duas realidades ou isso é tarefa para o futuro?

WR - Realmente existe um espaço que ainda não foi vencido no sistema de produção, no que diz respeito à transferência de tecnologias existentes nos órgãos de pesquisas e nas universidades. Essa aproximação tem sido dificultada principalmente pela carência de uma política de assistência técnica prática e eficiente, que proporcione a incorporação desses conhecimentos, Embora muitas vezes simples, tais conhecimentos certamente poderiam melhorar os índices de produtividade dos atuais sistemas de produção. Esse é o grande desafio das entidades públicas e privadas: buscar canais que sejam capazes de aproximar o homem do campo dessa realidade.

 

u O Berro - A Espanha quer fazer acordos com o Nordeste para estratificar certas microrregiões com intenção de produzir animais e produtos de origem certificada. Onde fica o Sincorte diante dessa perspectiva e estratégia dos espanhóis?

WR - A Espanha tem um modelo de gestão em produção de leite e de carne e um exemplo de certificação de origem protegida que poderá sim, em médio prazo, ser incorporado ao nosso sistema de produção, principalmente de leite. A fabricação de queijo é de maior interesse para nós, já que o sistema de produção praticado naquele pais é diferente dos padrões de produção de caprinos e ovinos explorados no Brasil, principalmente no Semiárido nordestino. Com relação à perspectiva de um trabalho conjunto, já existe uma boa interação entre a Espanha e o Nordeste. Em 2009, uma missão técnica de brasileiros visitou a Espanha. Professores espanhóis e criadores daquele país estiveram aqui em edições anteriores do Sincorte discutindo temas importantes e tudo isso gerou um vínculo entre nossas instituições.

 

u O Berro - O Nordeste tem mais de 50 raças nativas e muito pouco tem se feito para preservar e melhorar esse patrimônio de 500 anos. Em outros países poderiam ser uma riqueza; aqui é pobreza. O que pode fazer o Sincorte nessa direção? 

WR - Em relação às raças nativas, a realidade é que, ao longo dos anos, não se fez um trabalho de valorização dos seus produtos. Houve a preocupação de alguns produtores e de algumas entidades, mas apenas no sentido de caracterização fenotípica e genética das raças, porém não em relação à valorização dos produtos carne, leite, e derivados do ponto de vista comercial. O Sincorte tem contemplado palestras nacionais e internacionais focando nesse tema. Agora, na próxima edição, estaremos promovendo mais um debate e mais uma palestra mostrando a importância de agregar valor aos produtos das raças nativas locais fazendo com que essas raças possam produzir, mesmo com uma baixa produção de leite/dia, um produto diferenciado com valor agregado, em face às suas características pecu­liares. No entanto, o número de animais dessas raças é considerado muito pequeno o que dificulta uma exploração comercial, principalmente de produção de leite. Para a produção de carne temos mais oportunidades, principalmente com os ovinos deslanados. 

 

u O Berro - Há muitos frigoríficos fechando as portas e outros que estão abrindo as portas. Como o Sincorte vê esse “imbróglio” na atividade da caprino-ovinocultura?

WR - Na realidade o que acontece é a escassez de matéria prima, principalmente cordeiros e cabritos ofertados durante todos os meses do ano, dificultando o funcionamento e a manutenção da indústria frigorífica. Aqui no Nordeste, o nosso maior problema é a estacionalidade da oferta de animais, bem como a falta de um sistema que remunere melhor os produtores, principalmente na entressafra, onde os custos de produção são maiores. O Sincorte, em todas as suas edições, apresentou palestras e debates com o intuito de criar um ambiente de discussão de políticas públicas para o setor, mas infelizmente essas políticas públicas não têm sido implementadas de forma sistemática, dificultando a sustentabilidade da atividade. Se os Governos (federal, estadual e municipal) estabelecessem diretrizes e ações de médio e longo prazo, certamente os empresários investiriam no setor de forma pesada e colocariam a atividade no patamar que nós tanto almejamos.

 

u O Berro - Sem dúvida, a solução para o Nordeste semiárido é a proclamação de medidas de longo prazo, que favoreçam a produção. Para melhorar a produção é preciso tecnologia e informação. Onde o Sincorte pode ajudar a chegar a essa proclamação de caráter eminentemente político?

WR - Sim, existe um consenso que para o desenvolvimento da atividade no Brasil entre outras ações são necessárias  políticas públicas, de médio e longo prazo, que favoreçam a produção, bem como todos os outros segmentos dessa cadeia produtiva. Para melhorar a produção e a produtividade dos rebanhos é preciso que as inovações tecnológicas cheguem ao produtor, além de outras medidas como crédito, logística e capacitação. Tudo isso vai ajudar, principalmente aos pequenos criadores, para que eles possam atingir um patamar de produção superior aos atuais. Essas medidas, na sua grande maioria, são de caráter eminentemente político, onde os governantes sejam em nível federal, estadual ou municipal, bem como órgãos de crédito, de capacitação e de apoio à atividade, juntos estabeleçam políticas focadas na cadeia como um todo. Somente dessa forma a atividade poderá alcançar níveis satisfatórios de produção.

 

u O Berro - Existem muitos simpósios e congressos no Brasil, mas praticamente nenhum saiu com sugestões práticas que chegassem às autoridades e surtissem algum efeito visível. Por isso muita gente diz que “há muita fumaça e pouco fogo na caprino-ovinocultura”. O Sincorte também é um fazedor de fumaça, ou tem apresentado resultados práticos? Quais? 

WR - O Sincorte tem um formato peculiar porque envolve todos os atores da cadeia e, ao longo desses dez anos contribui de forma significativa com todos eles, (produtores, técnicos, pesquisadores, empresários, estudantes, bem como órgãos que definem as políticas para esse setor). O Sincorte e o conjunto de eventos paralelos proporcionaram ao longo dessas quatro edições novos conhecimentos e trocas de experiên­cias, através de palestras e dos debates que melhoraram a maneira de produzir carne de caprinos e ovinos no Brasil. Esses conhecimentos, no entanto, não têm sido incorporados aos sistemas de produção dos pequenos produtores de forma desejada. Entendemos que esse papel não é apenas do Sincorte, mas, de todos os agentes envolvidos nessa atividade. Fumaça existe para ser vista.

 

u O Berro - No último Sincorte havia um palestrante estrangeiro ensinando a fazer cascos de animais, como se os brasileiros não soubessem. Ao mesmo tempo, os países estrangeiros têm associações e órgãos públicos para direcionar a produção, tanto para o mercado interno como para o externo. Ou seja, aqueles países já assumiram a atividade, enquanto o Brasil fica discutindo pequenas questões, mas nunca o escoamento lucrativo da atividade. Como o Sincorte pode avançar nessa direção?

WR - Em edições passadas o Sincorte promoveu exposições de animais e certamente, com a amplitude de um evento dessa natureza, promovemos diversos cursos, entre outros os de preparação de animais para exposição solicitados pelas associações. Quando convidamos associações de criadores de outros países, a nossa intenção é mostrar também modelos de gestão e experiências. Geralmente, o principal foco de marketing dessas associações são os produtos: carne, pele e leite. O animal participa como um componente, um insumo de todo o sistema de produção. En­tão o Brasil precisa avançar. As associações de criadores têm que sair desse papel meramente cartorial e buscar alternativas de nova gestão onde os produtores tenham como foco a produção. O Sincorte vai continuar nessa direção. A Associação da Espanha estará aqui mostrando o seu trabalho com cordeiros e cabritos. É uma Associação que tem como componentes importantes de sua política de gestão, os programas de me­lhoramento de certificação do produto.

 

u O Berro - O Sincorte, como evento máximo, não deveria estar focado no mercado consumidor? Estando o mercado consumidor no Sudeste e Centro-Oeste não deveria estar lá o evento ­magno? Existe possibilidade de realizar o Sincorte dentro da Feinco, em São ­Paulo?

WR - O Sincorte tem o foco em toda cadeia produtiva e contemplou esse segmento em todas as suas edições anterio­res. Por exemplo, contemplamos o consumidor final com os festivais gastronômicos, fast-food de  produtos caprinos e ovinos, festival de queijos mostrando as várias opções da culinária caprina e ovina, bem como a forma de apresentação desses  produtos ao mercado consumidor para serem melhor aceitos no cardápio dos brasileiros. Na verdade, o maior mercado consumidor tem sido o Sudeste e o Centro-Oeste, onde tem crescido principalmente o consumo de carne de cordeiro. A possibilidade de realizarmos o Sincorte durante a Feinco, alternando entre João Pessoa e São Paulo, não deixa de ser uma ideia interessante, mas essa decisão passaria não somente pela Emepa, mas também pelos outros órgãos que hoje promovem esse evento. Essa discussão se for oficialmente apresentada deverá ser analisada pelo Conselho integrado pelos representantes das instituições que promovem o evento. 

 

u O Berro - Os espanhóis vieram ao Brasil, fizeram um Fórum e deixaram várias bases práticas para uma atuação conjunta que pode gerar uma nova realidade no Semiárido. O Sincorte não deveria promover a ligação de vários países com o Brasil?

WR - A nossa aproximação com os espanhóis surgiu da viagem de um grupo de técnicos e representantes de órgãos públicos e privados liderados pelo SEBRAE e depois, de um fórum realizado aqui na Paraíba. Em todas as edições do Sincorte recebemos técnicos, empresários e cientistas de diversos países. Este é um dos objetivos do evento: criar vínculos com instituições e entidades estrangeiras que possam contribuir com o desenvolvimento da caprino-ovinocultura no Brasil. Com os espanhóis estamos aproximando esse vínculo. Alguns modelos de gestão e tecnologia na área de processamento de queijos feitos por eles poderão ser aplicados na nossa região. Pesquisadores da Emepa e técnicos espanhóis já começaram a estabelecer uma parceria informal visando o aperfeiçoamento de algumas técnicas. Então, nós estamos atentos a todas as novidades e às novas experiências de países que são trazidas aqui para o Sincorte, porque muito do que aconteceu na caprino-ovinocultura durante estes dez anos de existência do evento, foi fruto de parcerias, formais ou informais, que fizemos. Certamente contribuições de outros países sempre também terão espaço no Sincorte.

 

u O Berro - O Sincorte não deveria trazer representantes de cada governo do Semiárido? Não deveria gerar, em cada evento, um documento oficial de compromisso. Algo como uma “Carta da Paraíba”, contendo ações programáticas a nível de governo?

WR - Durante esse período realmente nós não contemplamos palestrantes ou debates com representantes políticos de todas as regiões semiáridas. Trouxemos técnicos e representantes da região que apresentaram trabalhos desenvolvidos nas condições semiáridas do Nordeste.  Com relação a um documento contemplando o que foi discutido em cada evento, já tentamos fazer algo desse tipo, filmamos e gravamos  mas  não foi finalizado. Vamos tentar agora novamente.

 

u O Berro - Ao invés de apenas apresentar trabalhos acadêmicos e ­científicos o Sincorte não poderia também ser uma arena para discussão de iniciativas político-econômicas com presença de governos, entidades, órgãos científicos?

WR - O Sincorte tem uma ampla abrangência que não envolve somente trabalhos acadêmicos que são necessários para nos mantermos atualizados. Em todas as edições contemplamos também discussões de cunho político setorial e econômico  com a presença de representantes de governos,  entidades e órgãos envolvidos na atividade no nosso país. Em cada edição apresentamos debates e painéis nesse sentido. O que não tem acontecido é a continuidade nessas discussões ou implementação de ações ou de políticas setoriais que possibilitariam avanços na direção de uma atividade mais sustentável. Um canal nesse sentido seria a Câmara Setorial que poderia acompanhar esses debates e encaminhar as ações aos órgãos dos governos federais e estaduais.

 

u O Berro - Até onde resultados do Sincorte podem influenciar decisões nas Câmaras Setoriais, em governos regionais, etc.?

WR - A Câmara Setorial da Caprino-ovinocultura é um fórum voltado para o encaminhamento de medidas que possam beneficiar todo o setor através de estudos e comissões que apontem novos mecanismos e medidas de incentivos à diversos setores da atividade. Além dos resultados e conclusões que possam surgir de eventos como o SINCORTE, todavia, é preciso que os produtores, entidades e associações que os representam encaminhem esses pleitos para serem  apreciados na câmara setorial da caprino-ovinocultura.

 

u O Berro - O Nordeste é a região mais estudada do país, com gavetas superlotadas de trabalhos científicos e acadêmicos, mas continua sendo a região mais problemática do país. Por quê? A informação não deveria levar a bom direcionamento das políticas públicas?

WR - O Nordeste da mesma forma que as outras Regiões do país, tem sido e deve continuar sendo estudada. Sem conhecer cada vez mais nossos biomas, necessidades e potenciais será impossível avançar. A realização desses estudos tem contribuído com um acervo de tecnologias muito valiosa e significativa para o setor da caprino-ovinocultura. Essas informações, no entanto, não têm chegado aos produtores nem modificado significativamente os sistemas de produção. Temos consciência da realidade das instituições de assistência técnica pública e, do quanto isso tem inibido a incorporação de algumas tecnologias e conhecimentos que poderiam melhorar as condições do sistema de produção da região. Precisamos encontrar novas alternativas de transferências de tecnologias e de assistência técnica para o produtor, através de mecanismos de governos ou da iniciativa privada, ou mesmo através de parcerias.

 

 

 

Em 2011, o Sincorte estará sediado no Hotel Tambaú, na praia de João Pessoa.

 

u O Berro - O sertanejo sabe ordenhar suas cabras e pode produzir até 1.000 litros se houvesse condições, mas o Governo compra apenas 13 (treze) litros de cada um. Então, não vale a pena ter um bom rebanho, com boas cabras. O problema, então, não é tecnológico, mas de caráter basicamente político. Como o Sincorte poderia propor mudanças nesse cenário?

WR - As ações dos governos federal e estadual na região Nordeste, incentivando a produção de leite de cabra para incluir esse produto nos programas de combate a fome foram extremamente importantes e sem elas certamente não estaríamos na situação atual. Sempre existe, porém, a necessidade de manter as discussões abertas a novas realidades e cenários. Há uma discussão muito forte e constante aqui na região por conta desse problema. O Sincorte, dentro do evento paralelo “3º Fórum Nacional sobre a Caprinocultura Leiteira” discutirá de forma  consistente com autoridades dos governos federal, estadual e associações de criadores, este assunto, para que possamos abrir outras possibilidades para o aproveitamento do leite. 

 

u O Berro - O Sincorte mostrará casos bem sucedidos de produção de carne e produção de leite? Também de produtos diversos (defumados, perfumaria)?

WR - O foco desta 5ª edição do Sincorte será sobre a necessidade de identificar Sistemas Sustentáveis de Produção. Os sistemas de produção de carne e de leite, portanto, estarão em todas as discussões, com casos bem sucedidos mostrados e analisados. Isto sinalizará novas opções e formas de produzir carne e leite com ajustes nos atuais sistemas de produção praticados na região Nordeste. Quanto aos produtos derivados, este ano em dois eventos paralelos durante o Sincorte, serão apresentados, comercializados e degustados diversos derivados, principalmente de carnes caprina e ovina. 

Finalizando esta entrevista gostaria de dizer que o Sincorte tem e continuará tendo um papel importante no fortalecimento da caprino-ovinocultura no Brasil, pois a cada dois anos tem levantado temas muito interessantes que certamente irão servir de base para ações e políticas que poderão melhorar as condições dos caprino-ovinocultores do país.

 

 

Informações: www.sincorte.com.br - E-mail: contato@sincorte.com.br - Tel.: (83) 3244-0088






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