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A bandeira para o Anglo-Nubiano

- 07/12/2012

É bom estar no topo, na moda, mas não se pode esquecer que o mercado está de olhos abertos, analisando cada passo que os famosos dão e isso pode significar tanto o alongamento do caminho para frente, ou para trás.

 

Hoje em dia, dentro dos currais, é normal haver muita preocupação com porte, raça, pista, campeonato, glória, fama, lucro fácil, etc. Diz-se, então, que a consaguinidade é sempre o caminho a ser evitado, um sacrilégio, um pecado exigindo excomunhão, como acontece na maioria dos rebanhos de gado.

Octávio Domingues, o grande mestre brasileiro, repetindo grandes cientistas, porém, escrevia: “A consaguinidade é a pedra de toque do verdadeiro selecionador”. Para ele, professor que sistematizou a Zootecnia nas escolas brasileiras, a diferença entre produtor (criador) e o selecionador é a capacidade de utilizar, corretamente esta técnica para chegar ao resultado almejado. Será que a consanguinidade é um bem, uma necessidade para o selecionador?

Exemplo: recentemente, um rebanho de gado (Guzerá), com 115 anos de seleção registrada, passou por exame de DNA mitocondrial, para provar que era o mesmo de 115 anos atrás (Bos indicus), sendo um dos únicos do Brasil que teve coragem para isso, com índices de consanguinidade ditos “absurdos”, entre 10 a 40% (alguns afirmam que, acima de 5%, já é “mortal”). A consanguinidade, para a maioria, portanto, seria um “bicho-papão”. Para outros, todavia, é o segredo do aperfeiçoamento, da pureza racial, da elevada prepotência genética.

No exemplo dado: um único rebanho é o pai de todos os rebanhos leiteiros do país - e continua sendo! Muitos países fizeram um gado leiteiro baseado neste único rebanho. Então, para o leite desta raça, a consanguinidade fez bem e continua fazendo!

A consanguinidade é ruim quando o rebanho é misto, ou seja, o criador comprou de todas as fontes possíveis e, então, pretende mudar de status: quer passar de criador para selecionador. Nesse caso, ele quer imprimir a “marca própria” e, então, vai precisar de consanguinidade. Nesse momento é bom saber que praticar consanguinidade em rebanho de gado misto é brincar com cobra! A maioria acaba sendo picada. A consanguinidade desmascara os “defeitos”, ou seja, as características que não estão “afinadas” com o “registro genético” da espécie. O Mandamento Número Um de qualquer animal é “ficar vivo, ser fértil, longevo e forte para se defender”. O Mandamento Número Um não diz que o animal precisa ser grande, gordo, pesado, etc.

A humanidade, porém, cria animais domésticos para produzir alimentos, geralmente em boas terras, com boa oferta de alimentos. Assim pode selecionar as características imediatistas e não as características do “registro genético”. Nasce, aqui, a confusão entre Zootecnia e Zoologia!

 

Escolha - Por outro lado, quando se quer um gado adequado a uma região e situação é preciso selecionar as linhagens para as finalidades corretas. Então, cada criador elege suas prioridades e, mesmo sem querer, estará praticando a consanguinidade. Uns vão “fechar consanguinidade” para leite; outros para musculatura; outros para ossatura; outros para grande porte; outros para beleza racial; outros para resistência na caatinga. Cada “fechamento” de consanguinidade merece um estudo muito aprofundado. Enfim, o selecionador terá que optar pelo que quer.

Pensar que o animal premiado é um produto já pronto pode conduzir ao erro, pois ele geralmente é fruto de uma mistura imediatista e não da prática de estudada consanguinidade. Geralmente terá a altura que veio do rebanho de Manoel; a largura que veio do rebanho do Tonho; a ossatura firme do Chicão; o arqueamento do Alfredinho; sua mãe foi a famosa cabra do Aristeu, etc. Ou seja, vários outros selecionadores deram alguma contribuição.

Por isso, no mundo, quando um animal é Grande Campeão Nacional, muitos selecionadores fazem propaganda em revistas, parabenizando o campeão e salientando a influência do próprio rebanho. Ou seja, ele diz: “Parabéns ao Grande Campeão, por ser neto de minha extraordinária cabra”, etc.

Isto não irá mudar, nunca, pois o melhoramento funciona de acordo com leis biológicas. O ser humano apenas coleciona as características que quer.

Pitorescamente, muitos sertanejos nordestinos, ou do Centro-Oeste, sequer escolhem seus reprodutores: são inteligentíssimos, pois deixam essa função para as fêmeas. Eles encostam os machinhos e vão pegando um, por um. Aquele que for mais defendido pelas fêmeas será o futuro reprodutor. Elas, as fêmeas, sabem qual é o melhor! Essa é uma regra da Evolução: cuidar da progênie tendo em vista a eternização.

Acontece que nem sempre o futuro reprodutor que as cabras e ovelhas querem pode ser o campeão da exposição e, então, o Homem muda o destino. Ele prefere ganhar o título na exposição e escolhe o vistoso animal, mesmo que - geneticamente - seja frágil. Este animal será campeão, mas sua progênie será uma danação! Garantia de boas progênies é a firmeza genética, a prepotência genética, obtida somente pelo “fechamento da consanguinidade”, ou seja, pela consanguinidade estreita.

As cabras escolhem pela “tenacidade” e outras regras próprias. Muitos criadores de gado escolhem seus “reservas” dessa maneira, também. Não é segredo! Isto significa que a pecuária lucrativa, da caatinga, faz parte da sabedoria dos animais. Se tirarem as cercas, eles sobreviverão às secas. Também saberão escolher o próprio futuro, por meio dos melhores reprodutores.

Resumo: cada pequeno melhoramento pode ser fruto de consanguinidade planejada. De grão em grão enche-se o latão! Basta ter paciência.

 

O mistério - O Homem, para acelerar a produção de alimentos, formulou a Zootecnia, que gera animais maravilhosos para prêmios e lucros, mas nas caatingas rústicas jamais deveria se esquecer de que, em cada 10 anos, 1 é ótimo, 2 são bons, 3 são sofríveis e 4 são ruins. É importante, então, prestar atenção ao que corre dentro das veias dos animais, pois é ali que está o segredo de tudo. A vida foi erigida sobre o transporte do oxigênio dentro das veias. Disso depende o sucesso da própria vida, em cada região.

Ficar analisando apenas o exterior de animais é bom e interessa a 150 criadores - no máximo. No Nelore são apenas 350, no Brasil inteiro! A maior parte dos produtores de carne, no Brasil, sequer utiliza sêmen dos touros campeões (mal passa de 5,0% de inseminação, quando em outros países, passa de 80,0%). Os fazendeiros produtores de carne bovina preferem utilizar o tourinho do vizinho ou que tem crias “provadas” por perto, pois - assim - não há erro. Estas pessoas casam, corretamente, a Zootecnia com a Zoologia!

 

Volume x rendimento - O Anglo-Nubiano já está falando em cabras de 120 kg e mais (recorde acima de 150 kg). Ora, o peso é apenas uma das características e, entre todas, nem de longe é a mais importante para a pecuária lucrativa - embora seja muito premiada e aplaudida, pois é palpável (qualquer cego apalpa um elefante). O culto, ou obsessão, ao grande peso e grande porte já liquidaram muitas raças, no Brasil e no mundo. O caso mais recente é o da raça Santa Inês que ficou ofuscado pelo volume dos animais. Deu no que deu! O grande porte não significa rendimento no campo. O produtor de carne deseja maior produção de carne no menor tempo possível e no menor espaço possível, com frequência segura. Para isso é necessária uma raça-mãe rigorosamente selecionada para a finalidade “materna”. Ora, o Santa Inês havia sido selecionado para finalidades “paternas” (grande porte, volume, musculosidade, etc.). Ao ser cruzado com outra raça paterna (exótica) deu errado nos campos e cerrados do imenso Brasil. Havia fugido de sua própria base; deixou de cumprir a proposta original.

Agora, o Santa Inês retornou à origem: vai de vento-em-popa. Todo mundo está voltando a comprar Santa Inês, mas os produtores querem fêmeas de tamanho variando entre médio a pequeno, a preço de caatinga. Aprenderam a lição: mais vale a parição que o tamanhão, na raça materna. Tendo uma boa raça materna (Santa Inês), qualquer reprodutor exótico pode servir, ou ser testado. A segurança precisa estar, sempre, na raça-mãe. Esse é o papel dos deslanados, no Brasil.

 

 

 

O Anglo-Nubiano tem um vasto horizonte pela frente.

 

 

Anglo-Nubiano - O Nubiano tem uma grande responsabilidade no Brasil, pois é a raça mais utilizada. Tem que transformar essa vantagem em lucro para todos, com o apoio da ciência, para favorecer a todos e não apenas a 150 criadores que frequentam exposições. A raça, como todas as cabras e ovelhas do Brasil, precisa de uma estratégia global, para ter um futuro adequado. Seria melhor discutir a estratégia global para os trópicos, com profundidade.

Vários juízes salientam a importância de julgamentos de animais pelo escore corporal mediano - e não pelo máximo. Estão corretíssimos. Só se julga pelo máximo o animal que produz leite, ou vai para o abate. Em ambos os casos, estes animais serão mestiços, pois a heterose garante uns 20% a mais de superioridade (no balde ou no gancho) em comparação com os pais de puro-sangue.

Se alguém quer julgar, na pista, tão somente carne ou leite, deveria propor julgamento de mestiços. Isso é algo praticamente impossível de ser feito, pois os mestiços apresentam máxima dissociação genética, ou seja, não apresentam uniformidade racial, embora sejam notáveis pela uniformidade produtiva (carcaça, úbere, etc.). Mestiços levam ao “sistema de produção” e não à “seleção”. Não há “sistema de produção” sem a prévia “seleção”.

Basta ver o que aconteceu com o Santa Inês: gastou um tempo premiando mestições, monstrengos, que passavam dos 150 kg, facilmente, mas - como previsto - não iriam deixar filiação, pois eram fruto de dissociação e não de concentração genética. Ora, dissociação é sinônimo de “mestiçagem” (usada para aumentar a produção) e concentração é sinônimo de “consanguinidade” (usada para aumentar a prepotência genética).

Uma coisa, portanto, é Torneio de Produção (Concurso de Boi Gordo, Torneio de Carcaça, Torneio Leiteiro, etc.) e outra, muito diferente, deveria ser o julgamento de raça pura (a pureza tem muito a ver com tenacidade). Por isso, muitos juízes da raça Holandesa gostam de julgar vacas magras, pois os ossos ajudam a determinar qual vaca é melhor (!!). Osso não é defeito e pode indicar muitas coisas para o selecionador, incluindo o úbere que, mesmo estando murcho, está cheio de informações. Seria notável encontrar um juiz que apreciasse julgar cabras magras, pois os ângulos dos ossos podem indicar sua longevidade, sua aptidão leiteira, sua docilidade, etc.

 

O Sertão - A Caatinga é uma referência de sabedoria e dali deveria sair o ensinamento correto para toda pecuária brasileira. Se os catingueiros quiserem competir com o Sudeste e Centro-Oeste, com animais grandalhões, irão sempre perder a guerra, pois lugar de mestições é nas regiões onde chove, com certeza, durante 11 meses ao ano. No Sertão, quando chove, acontece em apenas 3 ou 4 meses! O que não pode ter em produção, o Nordeste pode ter em seleção.

A vantagem da Caatinga é ter catingueiros da gema. Coletar, preservar, enriquecer a sabedoria do catingueiro, sim, garante destaque à pecuária do Nordeste. As regras, portanto, para uma seleção de pequenos ruminantes das caatingas deveriam ser, antes de tudo, catingueiras, ou seja, adequadas ao chão! O julgamento de raças catingueiras deveria ser um primor de ensinamentos!

Por isso, a revista O BERRO, divulga sempre os Torneios Leiteiros, fazendo questão de incluir as cabras apelidadas de “mestiças” catingueiras, apesar da gritaria do resto do Brasil. Tais cabras fazem parte da “Zootecnia do mandacaru”, ou seja, da sabedoria milenar que não vai mudar de lugar. O Brasil herdou do período colonial o mau hábito de achar que tudo que vem de fora é superior. Acontece que, nas caatingas, tudo que vem de fora acaba morrendo mais facilmente! Os animais de fora não têm o mecanismo de transportar oxigênio para a epiderme e, então, sucumbem ao calor.

 

Resumo: cabe ao Anglo-Nubiano levantar a bandeira de adequação ao próprio chão, censurando a obsessão pelas características imediatistas: grande porte, grande peso, grande musculatura, úbere exagerado, etc. Estas características são devoradas pela Grande Seca. Já as características firmadas pela consanguinidade planejada: rusticidade, homogeneidade racial, tenacidade, fertilidade, etc. - sobrevivem galhardamente às Secas, há milênios, na África. Por isso a “Capra ibex nubiana” é das mais antigas do planeta e foi escolhida pelos britânicos para fazer uma raça mais “moderna”. Tentaram juntar a Zoologia com a Zootecnia e cabe aos brasileiros manter a orientação da raça sem esquecer a origem milenar. Nem de longe esse assunto chega ao seu final, pois o Anglo-Nubiano tem compromisso com o próprio futuro da caprinocultura brasileira.






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