1 - Há quase 30 anos quando a revista “O Berro” visitava as exposições da época, dialogando com os pilares da ovino-caprinocultura como: Oscar Katerfeldt, Luciano Dantas, João Batista, Romero Dantas, Vital Duré, Manoel Dantas Vilar, Suetônio Vilar, e tantos outros, jamais imaginava que aquele rebanho tão saudável poderia um dia ser ameaçado pelo “terrorismo zootécnico”. O Nordeste já havia vivido o flagelo do “bicudo”, um ato de terrorismo habilmente plantado, além de tantos outros que sequer merecem ser mencionados. Os caprinos e ovinos, no entanto, eram coisa de gente pobre, não afetavam os potentados, não corriam perigo.
Os anos foram passando, os ovinos e caprinos conquistaram terreno e, hoje, disputam palmo a palmo com algumas categorias de bovinocultura. De fato, a Austrália - que chegou a ter 187 milhões de cabeças, no passado - poderá ver o crescimento do Brasil para ostentar um rebanho dessa ordem. Por que não? A diferença é que o rebanho australiano era de lã e o brasileiro será de carne e leite, muito mais viável. Temos clima, terra, gente hábil, um mundo propício para ovinos e caprinos.
O mundo pede; o mundo espera; o Brasil deve essa gentileza ao planeta. Quando alguém não explora suas terras para o bem-estar da humanidade, alguém vai chegar e fazê-lo. Então, é bom ter consciência de que os produtores precisam colocar sua potencialidade em ação, para evitar que os gringos venham fazê-lo. Já surgem muitas fazendas prenunciando grandes rebanhos com vistas ao mercado internacional.
2 - Se tudo é tão bonito, cabe perguntar: “por que, então, de repente, a revista “O Berro” vem sugerir, nessa edição, o abate sistemático de milhares de animais. Por quê?”
Hoje, a Austrália e a Nova Zelândia estão livres das mais terríveis doenças que proíbem exportações. Esse é o enfoque: trabalhar corretamente para que, logo mais, o Brasil possa estar exportando 20, 30, 40 milhões de cordeiros para as grandes festas religiosas do planeta e para as mesas que exigem essa iguaria.
Tal tarefa cabe ao Brasil. Várias vezes as chances já surgiram, mas não havia uma cadeia coordenada para tanto. Hoje, os produtores de carne começam a mostrar que estão dispostos a investir, pesadamente, para garantir uma produção estável. Logo serão dezenas, centenas de grandes produtores. Isso é motivo para comemoração!
Por outro lado, porém, para piorar, começa a circular pelo mundo a notícia de que o Brasil tem a famigerada doença Scrapie (relatórios europeus). Ora, brasileiros incautos e ambiciosos foram ingênuos, servindo ao “terrorismo zootécnico”, introduzindo a CAE, a Língua-Azul, a Maedi-Visna, e tantas doenças. E, finalmente, introduziram a Scrapie.
Nessa edição, trazemos várias matérias sobre a Scrapie, esse flagelo da atualidade. Verificamos a situação dos Estados Unidos, de onde veio a maioria dos animais infectados. Trata-se de uma grande nação que tem um notável programa para controlar e erradicar a Scrapie, mas que - ao mesmo tempo - permite que seus cidadãos vendam os animais infectados a preços irrisórios, desde que seja para bem longe, para outros países! Foi assim que a Scrapie viajou do Reino Unido, do Canadá e dos Estados Unidos para o Brasil. Uma autêntica “pirataria”: vendendo ouro e entregando lixo.
Só existe uma solução para a Scrapie: genotipar os reprodutores das raças de cara-negra e os de cara-branca que são suspeitos. Dar a eles um Certificado de Qualidade. Todos os criadores serão obrigados a comprar ou conseguir reprodutores “RR”, pois somente eles poderão garantir que, no futuro, não aconteçam abates sistemáticos (rifle sanitário). Quem deveria pagar a conta? Claro, o Governo, pois a incúria foi dele. E, ao contrário dos Estados Unidos e outros países, deveria proibir a venda de animais suspeitos, para frear - de vez - com o mal.
3 - Ao mesmo tempo, a ovino-caprinocultura atinge a maturidade: ganha uma TV do Berro para espalhar para milhões de parabólicas a boa-nova da atividade. Tudo caminhará mais rapidamente. Os produtores ganharão mais dinheiro. Milhares e milhares de novos empresários irão surgir. Ao invés de dezenas de milhares de leitores, agora serão milhões de expectadores. Bom para todos.
É importante que, nesse estágio de maturidade, o objetivo comercial seja negociar animais isentos de qualquer doença transmissível. É o único caminho sério para os brasileiros. Não podemos dar o mau exemplo dos demais países. Não temos tradição de “pirataria”, nem de “terrorismo zootécnico”. Temos, apenas, que defender nossos princípios, a pureza de nossos sertanejos. Eles nos entregaram um patrimônio zootécnico “limpo”. Não podemos passá-lo adiante somando “sujeira” que veio de outros países.
4 - Tudo isso ganha força quando se pensa na FEINCO, uma exposição internacional para exibir o que o país tem de bom. O que é que tem de bom? Fazendeiros cheios de boas intenções. Aqui não se vende, nem se repassam doenças.
É preciso deixar claro: uma simples análise dos países detentores de boa genética mostra que a maioria tem problemas sanitários. Assim, a corrida para importar animais, pensando em lucrar dentro do Brasil, está equivocada, pois traz consigo o “terrorismo zootécnico”. Chega de importar o que não presta. É preciso ter um Atestado para cada animal importado e este Atestado (simples papel) precisa ser rigorosamente analisado pelas autoridades brasileiras. Não há país bom, nem santo, com exceção para o Brasil. Fomos frágeis, sim, ao deixar entrar tantas doenças, mas é hora de dizer “basta”.
Finalmente, é importante uma união entre as entidades de classe para exigir que o Governo faça sua parte, que enfrente o “terrorismo” diante do mundo. Não podemos permitir que outros países lancem seus aviões para destruir as “duas torres” do Brasil, que são a ovinocultura e a caprinocultura. Estas duas atividades podem viabilizar mais de 1,5 milhão de propriedades, gerando facilmente mais de 10 milhões de empregos, e muitos bilhões de dólares.
Enfim, é hora de erguer-se do berço esplêndido em que a maioria dos brasileiros pensa ter sido colocada por Deus. Lendo a Bíblia, vê-se que Deus expulsou o Homem do Paraíso, enviando-o para uma terra rochosa e desértica. Como consolo, deu-lhe cabras e ovelhas. São, portanto, presentes de Deus. Para muitos brasileiros, são tudo o que têm. É nosso dever lutar por esse formidável patrimônio genético, transformando-o no maior e no melhor do planeta, para o bem da humanidade. Tarefa fácil, desde que tenhamos seriedade, desde já.