Página Inicial BUSCA no site












Estaremos em recesso no perí¯¤o de 21 de Dezembro a 10 de Janeiro.
Os pedidos realizados nesse perí¯¤o ser㯠processados apã³ essa data.

Feliz Natal e um Prã³°ero Ano Novo!


Matérias



Toxemia da Gestação: relato de um caso

Autor: Daniel Maia Nogueira e Madriano Christil - 01/03/2007

Introdução

 

A sanidade do rebanho é ­essencial para um bom resultado econômico e pro­dutivo do plantel. Animais doentes di­­minuem a produção, possuem baixa efi­ciência reprodutiva e aumentam os gas­tos financeiros com a compra de  me­­dicamentos­. É de fundamental importância o conhecimento das principais enfermidades que afetam os ca­prinos e ovinos para que possamos rea­­lizar um diagnóstico correto e tomar as medidas de controle necessárias.

As doenças metabólicas que acometem os pequenos ruminantes podem ser evitadas observando-se as regras bá­­­sicas de nutrição e condição ­corporal do animal. A energia é o nutriente mais im­­portante na relação entre nutrição e a reprodução dos pequenos ruminantes, embora a proteína e os outros nutri­en­tes, tais como minerais e vitaminas, se­jam também essenciais ao processo re­­­produtivo desses animais.

É durante a gestação e logo após o parto que esses distúrbios metabólicos acontecem com mais freqüência. Nesse período, a capacidade ruminal da fêmea é diminuída à medida que os fe­tos vão crescendo no interior do útero. Cerca de 70% do crescimento da cria ocorre no terço final da gestação. É justamente nesse período que as ne­­ces­sidades energéticas da fêmea aumentam. Assim, a deficiência energética nas fêmeas gestantes pode ocasionar um quadro conhecido como toxemia da gestação.

O objetivo desse artigo é fazer o re­­lato e o estudo de caso de uma ovelha que foi levada a estação experimental da Embrapa em Petrolina, Pernambuco, apresentando toxemia da gestação.

 

Relato do caso

 

Chegaria à estação uma ovelha Santa Inês gestante, co­­m aproximadamente 1,5 ano de idade, baixa condição corporal (CC=2,0), de­sidratada, apresentando ranger dos den­­­tes, tremores musculares e queda dos pêlos (Figuras 1 e 2). Inicialmente apresentou falta de coordenação motora e trem posterior (quadril) caído. Levanta­va-se com ajuda do manejador (Fig. 3), mas se deitava logo em seguida. Um dia após a primeira observação, entrou em decúbito ventral. Embora apresentando os sinais clínicos normais, como tem­peratura, freqüência respiratória e car­díaca, apresentou redução de apeti­te. Só comia quando o alimento ­era oferecido na boca (Fig. 4). Um sinal característico de toxemia da gestação é o cheiro de cetona eliminado na respi­ra­ção do animal.

Na tentativa de indução do parto, apli­cou-se 100 mg de cloprostenol (PG F-2a) + 0,25 mg/kg de dexametasona. Com o intuito de melhorar as condições fí­sicas do animal, foi aplicado 500 ml de complexo vitamínico-mineral e glicose. Como as drogas não provocaram a in­dução do parto, a cesariana foi realizada 48h após as aplicações. Foram re­ti­rados dois fetos ainda vivos, sendo evi­denciado que os mesmos já haviam atingido 2/3 do crescimento fetal (Fig. 5). A ovelha morreu um dia após a cirur­gia durante um final de semana, não sen­do possível ser feita a necrópsia.

 

Descrição do distúrbio

 

A toxemia da gestação é uma desordem metabólica caracterizada pela di­minuição dos níveis de carboidratos e aumento dos corpos cetônicos (ceto­nas) na corrente sanguínea, que ­ocorre co­mo resultado da incapacidade do ani­mal em manter o balanço energético ade­quado (Pastor et al., 2001). Devido à di­­­­­­minuição da glicemia, o animal ­co­meça a utilizar suas reservas corporais (teci­do adiposo) para tentar estabilizar os ní­veis de glicose, com isto a corrente san­­­­­guínea torna-se rica em ácidos gra­xos, em concentrações acima da capa­cidade de metabolização do fígado, e assim, resultando na produção de corpos cetônicos na corrente sanguínea (EAST, 1983).

 

Explicação bioquímica

 

A carência dos componentes ener­gé­ticos causa um bloqueio no ciclo de Kre­bs, resultando na produção inadequada de oxaloacetato, que é ­derivado da glicose ou de substâncias neoglico­gê­nicas (propionato, glicerol e ami­no­áci­dos). Com isto, o oxaloacetato não es­ta­rá disponível para a conversão da ace­til-CoA em ácido cítrico. Como conseqüência, a acetil-CoA, derivada dos áci­­­­dos graxos da quebra da gordura, to­ma vias metabólicas alternativas, culminando na produção de acetoace­ta­to e por fim corpos cetônicos (Pastor et al., 2001). (Fig. 6)

 

Fatores predisponentes

 

Os fatores que ocasionam a to­xe­mia da gestação podem ser genéticos, fe­tos múltiplos, baixa ingestão energé­ti­ca, alta carga parasitária, baixa condi­ção corporal ou, até mesmo ­obesidade (Merck, 2002). Os animais obesos são sus­ce­ptíveis a toxemia porque a gordu­ra ocupa espaço na cavidade abdominal e também contribui na diminuição da capacidade de ingestão ruminal.

A toxemia da gestação ­geralmente é observada em animais no terço final da gestação gemelar ou de trigemelar. Ani­mais gestantes com dois fetos necessitam de uma quantidade de energia 180% maior que um animal gestante com apenas um feto, e esta7 ­exi­gência energética aumenta para 240% ­quando são três fetos (Merck, 2002; Schoenian, 2002).

 

Sinais clínicos

e diagnóstico

 

Animais afetados apresentam gradual queda no apetite. Em fases mais adi­antadas apresentam tremores musculares, desidratação, queda de pêlos, con­vulsões, distúrbios visuais, ranger de dentes, movimentos circulares, depressão, decúbito ventral e morte (Nix, 2004; Swartz, 2006). As disfunções neurológicas são causadas pelas lesões neu­ro­nais causadas pelo acúmulo de corpos cetônicos que atravessam a barreira hematoencefálica (Merck, 2002). A mor­­bidade entre animais obesos é alta, po­­dendo chegar a 20% do número de ani­­mais do rebanho, tendo um ín­dice de mortalidade de 80%.

Os animais doentes apresentam gran­­de aumento dos corpos cetônicos na urina, leite e plasma (Garcia, 2006). Os sin­tomas da toxemia da gestação podem ser similares com o da hipocalce­mia ou febre do leite (Schoenian, 2002). O dia­­gnóstico diferencial é que esta última responde ao tratamento com ­cálcio.

 

Tratamento

 

O tratamento deve ser imediato e agre­ssivo. O feto deve ser removido o mais rápido possível. Em casos avançados, deve-se realizar a cesariana ou in­dução do parto com prostaglandina ou dexametazona.

Deve-se promover a ingestão de componentes energéticos pela fêmea gestante, como grãos e melaço. Podem ser administrados 60 a 90 ml de propile­no glicol ou iogurte duas vezes ao dia, que proverá energia e bactérias para es­timular o rúmen (Pugh, 2004). ­Aplicação endovenosa de glicose é outra possibi­li­dade, mas difícil de ser feita pelo proprietário.

 

Cuidados que devem ser tomados nas cabras e ovelhas antes do parto:

Oferecer alimento de melhor qua­lidade, principalmente, durante o úl­timo mês antes do parto, pois é onde ocorre o maior crescimento da cria;

As fêmeas obesas devem ­passar por uma dieta para diminuição do peso, ou seja, manter uma boa condição corporal (CC=3,5);

As fêmeas prenhes devem ser pou­­co manejadas, evitando a introdução de animais estranhos ao rebanho;

Próximo à época de parição, colocar as fêmeas em um pequeno cerca­do próximo à casa do produtor.

 

Considerações finais

 

Na literatura consultada, não foram en­contrados dados sobre a incidência da toxemia da gestação. Todavia, é de co­nhecimento comum que este distúrbio acontece com certa freqüência, visto que na região semi-árida do ­nordeste do Brasil, as parições normalmente a­con­tecem durante o período seco, onde há escassez de alimentos para os animais. Durante esse período, também é observada a ocorrência de abortos, on­de o animal expulsa a cria como uma for­ma de defesa.

Deve-se tomar medidas para pre­venir as doenças e não para ­­tratá-las. Afinal, os custos financeiros e a mão-de-obra são mais onerosos no tratamento do que na prevenção das mesmas.

Bibliografia à disposição da Editora.

 

Daniel Maia Nogueira é pesquisador da Embrapa Semi-Árido - daniel@cpatsa.embrapa.br

Madriano Christilis é acadêmico de Medicina Veterinária da UFRPE -  madrianosantos@gmail.com

 

Publicado na Revista O BERRO 99

 

 






Link para esta p᧩na: http://www.revistaberro.com.br/?pages=materias/ler&id=741


Desenvolvido por Spring
rea do usuᲩo

 
Cadastre-se para acessar as mat鲩as restritas, clique aqui.

Esqueci minha senha!