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Novo cenário, novas chances

- 09/01/2008

Novo cenário, novas chances

 

No início do século XX, até 1930, houve uma “guerra contra o Zebu”, pois os an­tigos criadores achavam que não podia haver uma nova pecuária. Depois de 300 anos desde o descobrimento, o país estava conseguindo obter algumas raças adapta­das ao ambiente tropical e achava que o Zebu poderia colocar tudo a perder. A che­gada do Zebu era um desastre visível para muitos e, no entanto, viria a ser a sal­vação das propriedades do imenso território brasileiro. O Zebu evoluiu, mesmo sem ter modernas tecnologias à disposição. Mesmo com tradições e crendices, misturadas a mui­tas superstições, aos trancos e barrancos, a bovinocultura chegou à maturidade que, hoje, às custas do Zebu, exibe com orgulho o maior rebanho de corte do pla­neta, assegurando o posto de maior exportador. Mesmo assim, com tantas vi­tórias, ainda está longe de exibir segurança diante de muitos países.

O Nelore, em 1967, ocupou o primeiro lugar entre as raças zebuínas. Em 1944 havia apenas meia dúzia de Nelores na Expo Nacional de Uberaba e eram ­chamados de “veadinhos desengonçados”. Os neloristas perceberam que só havia um ­caminho: aplicar tecnologia. Foi assim que começaram as Provas de Ganho de Peso (em 1952), os Testes de Progênie, dando impulso à Inseminação Artificial, etc. A partir de 1985, a biotecnologia abriu espaço para a Transferência de Embriões e a Fertili­zação in Vitro. Tudo mudou: não se falava mais de boi de milhão e vaca de tostão, pois tudo podia valer milhão (“Nelore: a vitória brasileira”, vol. 1).

O Nelore, hoje, exibe um majestoso animal nas pistas de exposições, muito distante dos animais sertanejos que, por sua vez, são os responsáveis pela exporta­ção de carne. Fala-se muito em Nelore, mas existem dois Nelores: o de exibições e o de produção. Um procura testar o potencial da raça, o outro trata de melhorar a lu­cratividade dentro das propriedades. Praticamente há pouco casamento entre es­tas duas pecuárias, segundo a Asbia, que mostra uma taxa de apenas 3,7% de in­seminação artificial na pecuária de corte do Brasil. Se os animais de pista fossem imitados, a taxa de inseminação não seria tão baixa, uma vez que os países de­senvolvidos ostentam taxas de 80, 90 ou 95%. O que é bom precisa ser imitado, ou devia! (“Nelore: a vitória brasileira”, vol. 4).

O fato é que a produção de carne dita as regras a serem seguidas. Se a pro­dução de carne avança, então a pecuária de elite pode ter fôlego mais longo. Se não hou­ver produção de carne, então a pecuária de elite estará dando tiro no próprio pé.

A orientação zootécnica busca ligar a pecuária do campo com a da exposição. Tarefa difícil, pois a produção de animais de elite custa muito caro, ficando longe das possibilidades do campo que, por sua vez, garante a produção de carne. A evo­lução da pecuária, portanto, acaba sendo lenta, quando não se tem um estímulo ou ­orientação institucional (diga-se: governamental). Nos demais países, a pecuária é assumida como ferramenta de viabilização do campo (Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, França, Inglaterra, etc.). No Brasil, porém, o governo cumpre bem as funções de fiscalizar, punir, cobrar, coibir e muito pouco de estimular os produtores de ­carne. Por isso lá se vão 500 anos depois do descobrimento de um território magnífico para a pecuária e ainda a sociedade continua assistindo melancólicas lutas no cam­po! Jamais houve orientação estimuladora, no correr da história, como em ­outros países. Recentemente surgiram órgãos como o Sebrae, o Senar, e outros, que es­tão  inaugurando um novo tempo, a favor da produção, merecendo aplausos e votos de que persistam na direção certa.

 

Ovinos - Muitos profetas do desastre afirmam que a ovinocultura brasileira es­tá no caminho errado, promovendo a raça Santa Inês, com altos preços e que esta orientação jamais chegará ao campo, onde já podia estar consolidada. Outros afirmam que a raça já mudou de fisionomia, nada tendo a ver com as próprias raízes his­tóricas.

Há um evidente exagero e falta de conhecimento da História nessas ­afirmações. Sem dúvida, em qualquer pecuária, muitos entram na atividade e serão banidos ou de­sistirão, por engano próprio. Afinal, o elitismo não é para todos. Muitos famosos cria­dores de Zebu já foram sepultados pela História, mas foram importantes em seu tempo. A seleção é um sacerdócio, pode ser muito lucrativa para alguns empre­sários, mas em geral é negócio de pessoas abnegadas que, quando muitos dos atuais empresários desistirem, continuarão levando adiante sua tradição. Tem sido as­sim em todos os países. Sacerdócio não é para todos, pois os frutos podem ser de­morados.

Por isso, na raça Santa Inês é fácil de enxergar os selecionadores ricos e os po­bres, tanto quanto na seleção de bovinos. Não é a riqueza que determina ou irá de­terminar a qualidade dos animais, junto dos verdadeiros selecionadores. O es­toi­cis­mo de antigos criadores de Zebu pode não ter trazido fortunas, mas trouxe uma gló­ria que os estimulou no correr das décadas. Não é e nem será diferente entre os ovi­nocultores.

Em resumo: com certeza não haverá ruína da pecuária de elite, embora ela pos­sa até mudar de cara. A ovinocultura irá manter a mesma linha histórica que o Nelore: na pista estará realizando o teste da potencialidade biológica dos animais; no ­campo terá vez o teste da realidade. Estas duas pecuárias tendem a caminhar juntas.

Surgem, isso sim, novas fontes de renda para o campo, por meio da produção de carne. Isto já aconteceu na bovinocultura e começa a se repetir na ovinocultura. Em São Paulo já existem 13 (treze) pólos de produtores, todos reunidos na Aspacco. So­mando os pólos produtores no Brasil já são mais de 40. Depois de 500 anos de aban­dono, isso é uma notável vitória. O Brasil fez em 20 anos o que deixou de fazer em 500 pelas ovelhas.

Cada pólo caracteriza-se pela produção e pelo escoamento. O livro “Santa Inês: a raça fundamental” mostra as dezenas de regiões que podem gerar ecótipos economi­camente viáveis. Em cada micro-clima pode haver um pólo de produtores, com um ecótipo lucrativo. A base da maior parte do território brasileiro, no entanto, pode ser ocu­pada por uma raça materna: Santa Inês, exatamente como fez o Nelore entre os bovinos.

Já a produção de carne pode ser obtida através de muitos sistemas de cruza­mentos com a raça materna. O livro citado traz muitas opções de raças brasileiras e internacionais para realizar tais cruzamentos. Não é momento de fechar os olhos para a realidade dos cruzamentos e a necessária produção de carne; pelo ­contrário, é hora de estar muito atento a todas às possibilidades de viabilizar toda sorte de propriedade, em qualquer região ou em qualquer situação.

Este é, portanto, um bom momento na pecuária brasileira: muitos ­empresários irão investir, não em animais, mas na infra-estrutura. Afinal, pode-se ganhar mais dinheiro com o “sólido”, ou seja, com frigorífico, curtumes, rede de escoamento, etc. do que apenas praticando a criação de animais. Esse é o elo que já começa a ser vislumbrado. Até o momento, meia dúzia de empreendedores já está com rebanhos acima de 5.000 cabeças produzindo carne em escala. Tudo isso, no entanto, será ul­trapassado rapidamente. Um rebanho de 5.000 ovelhas significa um abate ­semanal de 60-70 cabeças: muito pouco para atender um único supermercado moderno. Logo surgirão rebanhos de 20, 30, 50 mil cabeças!

Ao mesmo tempo surgirão empresas especializadas em estocagem e escoamento. Haverá os produtores e haverá os escoadores: ambos são importantes.

Cada pólo pode montar seu próprio frigorífico, de acordo com suas ­necessidades regionais. Basta pouca pressão política para conseguir essa façanha, desde que ha­ja um empresário à frente. Assim, logo os criadores entenderão que precisam es­­ti­mu­lar a chegada do proprietário de frigorífico, do empresário de escoamento, etc. Ao mesmo tempo chegarão os prestadores de serviços: veterinários, zoo­tecnistas, patrulhas mecanizadas, biotécnicos, etc. A ovinocultura brasileira pode incorporar 100 ou 200 empresários na área de beneficiamento de carne, peles, escoamento, etc. Uma chance muito importante para alavancar a atividade.

O mercado interno é muito grande, o externo maior ainda. A chance ­empresarial é muito clara, pois o horizonte é muito vasto, com repercussão internacional. Basta lembrar que alguns países têm frotas de navios apenas para atender exportações! O Brasil ainda está longe disso, mas esse dia logo chegará.

Ou seja, quando a tônica deixar de ser os produtores de animais de elite para ser os produtores de carne, tudo ficará muito claro, fechando a cadeia produtiva po­sitivamente. No momento, a imprensa ilustra principalmente os investimentos em ani­mais de elite porque este é o mercado em evidência, mas isso logo irá in­corporar uma atividade mais sólida e duradoura: a produção de carne. Muitos selecionadores preferirão o “negócio durável e certo” (produção ou beneficiamento de carne).

 

Futuro agora - Já surgem os mascates, eles compram e repassam animais de todos os níveis. Os antigos mascates de Zebu enxergaram a realidade com ta­manho vigor que foram até à Índia, para atender a pecuária brasileira. Cada viagem, ­naquele tempo, levava meses! Enriqueceram a cidade de Uberaba e a própria pecuária brasi­leira. Agora, a ovinocultura está abrindo um novo mundo: os mascates de bovinos vão bandear para os ovinos e o brilhantismo prosseguirá por um bom tempo, pois o mer­cado exige milhões de novos animais. Os mascates têm uma nova chance.

Por outro lado, há os mascates de animais de produção: mestiços tipo Dorpinês, Ilenês, Suffolkinês, etc. Muitos produtores de carne já estão pagando bons preços pe­los mestiços que serão “ventres” nas propriedades. Afirmam que os mestiços já tra­zem o conserto para certas peculiaridades do Santa Inês, exatamente como aconteceu com o Nelore, no passado. É um momento de reflexões: os criadores de uma raça materna (Santa Inês) precisam produzir animais para o mercado produtor de carne e não apenas para exposições. Sobreviverão aqueles que apresentarem ani­mais com todos os requisitos da produção de carne: boa habilidade materna, in­cluindo leite, rusticidade, boa conformação muscular, consanguinidade calculada pa­ra garantir uma boa transmissão dessas qualidades, etc. Uma ovelha mestiça é ven­dida, facilmente, por três ou quatro vezes o preço de um animal sertanejo de ra­ça pura: isso indica que os compradores preferem um animal já “corrigido”, ­embora muito menos rústico.

Ou seja, a moderna pecuária exige estudos. Repetindo: o Nelore teve um desen­volvimento lento de 1870 até 1950. De 1960 a 1980 surgiram grandes ­colecionadores de animais famosos, ao lado de algum progresso zootécnico. No campo, nessa ­épo­ca, eram realizados muitos cruzamentos entre raças brancas internacionais, com a Ne­lore, para chegar ao moderno novilho de corte (Chianina, Marchigiana, Piemontês, Charolês, Guzerá branco, e outras). No início da década de 1980 o Nelore começou a aplicar os conhecimentos mundiais de Zootecnia. Em apenas 20 anos (20 gerações) atingiu um patamar internacional: a ciência é tudo! (“Nelore: a vitória brasileira”, vol. 4).

Na ovinocultura, repete-se a mesma história. Os mesmos 20 anos ­reduzem-se a 12, pois são 3 gerações a cada 2 anos. Ou seja, a produção de carne ovina poderá atingir em 12 anos o sucesso que o Nelore obteve em 20!

O melhoramento zootécnico do Santa Inês é evidente nos últimos 6 anos. Fal­tam mais 6 anos para atingir um grau de alta excelência, ou seja, 9 gerações. É tempo suficiente para aperfeiçoar ao máximo o Santa Inês, quando se tem uma bússola. A marcha é para frente, sem retorno, sem atavismo. A Genética não privilegia a es­tag­nação, muito pelo contrário, estimula o progresso. O animal antigo não é a ­bússola, pois foi o Homem quem produziu o “antigo” e também está produzindo o “moderno”. A Genética é apenas uma ferramenta sob comando do Homem e não o contrário, em­bora existam saudosistas dos tempos antigos. Cabe lembrar, sempre, que a ra­ça Santa Inês tem à sua disposição ferramentas que os bovinos não tiveram: exames de DNA mitocondrial e, logo mais, talvez até um mapa genomático. Estas ferramen­tas, no entanto, indicam e indicarão que a raça Santa Inês é resultado de um co­quetel de outras raças e, como tal, tem apenas dois caminhos, o do aperfeiçoamento zoo­técnico de sua aptidão para carne e o da habilidade materna. Isso deixa claro que o futuro será sorridente, mas é prudente caminhar com a Ciência ao lado.

Assim, é de se esperar uma mudança de enfoque por parte dos produtores de car­ne, reunidos nos pólos: reduzir a obsessão pelas exposições e aumentar/pressionar o surgimento das chances para empresários não-produtores, mas que ­sejam excelentes escoadores. É hora de pensar mais na cadeia produtiva do que nas pis­tas de julgamento, pois estas continuarão sua trajetória automaticamente, uma vez que já receberam combustível suficiente para chegar ao futuro.

Este é o caminho para continuar avançando para atingir rapidamente um ­rebanho de 100 milhões de cabeças, ocasião em que o país poderá começar a tratar de ex­por­tação de carne, com eficácia. Para tanto precisa de uma cadeia eficiente. Até lá, o Brasil terá implantado a ovinocultura de corte mais lucrativa do planeta.






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