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Matérias



O Bom Vendedor de Cabras

- 14/05/2008

Seráfico, ou Seza, era um comer­ciante de cabras, pois entendera que era o melhor a fazer em sua roça no sertão de Pernambuco, onde só existia uma cer­teza: a de que vai faltar chuva algum dia. Arrumou as tabicas, ajeitou uma boa cerca, o curral ficou bonito, colocou até bebedouro para interessar às matreiras e poder trancar tudo no final do dia, enquanto não chegassem os compradores.

Juntou os cobres e saiu pela redondeza, montado no burro, seguindo sempre o palpite do alheio, procurando quem tinha cabra barata para vender, pra molde de ele dar um trato e vender pelo dobro, logo mais. Era bom de papo e não tinha quem não comprasse o animal que ele quisesse vender.

Chegou, um dia, num roçado des­caí­­do, mizinfrim e logo viu que ali ele po­dia comprar coisa boa e barata. Antes, porém, resolveu assuntar de longe e viu umas cabronas bonitonas saindo do riacho que, no inverno, insiste em correr por algumas semanas. Arregalou os olhos: tinha que comprar estes animais.

Foi se chegando, saudando o velho matuto que pilava alguma coisa no chão: “Com a bênção do Senhor”. O velho só olhou, mas o lampejo disse tudo. Pediu ao filho para atender, debaixo do bigodão de cabra macho do sertão. Conversa vai, conversa foi, Seráfico pediu pra olhar as cabras e, logo, havia um monte delas no terreiro. Uma melhor que a outra, negócio do outro mundo. Tinha que botar a mão no máximo que pudesse, mas o do bigodão não queria papo:

- Só vendo três, por precisão.

O preço era alto, mas Seráfico viu que ainda podia topar. Eis que, na janela, surge um coro de criançada:

- Vende não, pai!

Começou uma cantilena, chororô da meninada se agarrando no pai, ou em Seráfico, que não entendia nada. O do bigodão tentava explicar:

- Eu dei as cabras pras crian­­ças, sabe como é, mas a gente precisa fa­zer algum dinheiro e, então, eu vendo, mas...

E apontava a gurizada que chorava, chorava, lágrimas corriam. Para piorar, cada um resol­veu abraçar uma das cabras, en­quanto Seráfico pensava num resmungo:

- Mas que diacho fui escolher bem as cabras da pequerruchada.

E a criançada dizia:

- Mas, pai, a Marieta não, ela dá tan­to leite.

E Seráfico logo dobrou o pre­­ço pelo lote, pois viu que ali tudo valia a pena.

Então não teve jeito, o do bi­godão tor­­ceu a boca, bateu no ombro, coçou os ca­­belos que co­meçavam a branquear, o preço das três valia um lote de 15 e decidiu:

- Está bom. Molecada pra dentro, que aqui é negócio de gente graúda. Fora, fora, fora!

Pelo jeito o do bigodão era brabo, pois sumiu todo mundo, até o velho. Ne­gócio feito, Seráfico puxou as notas, con­tou uma a uma, pegou as cordas e saiu le­vando as cabras majestosas, atrás do burrico.

Nem precisava tratar, pois estavam lindas, gordas, desafiando já a próxima seca. Seráfico completou uma ração es­pecial e levou o lote pra feira de sábado, pra reembolsar, com lucro, a compra. Sa­bia que essas cabras iriam ser disputadas, apesar do preço.

Chega um, chega outro, alisa, coça, levanta orelha, raspa o pêlo, olha as tetas, levanta os cascos, faz um muxoxo e vai embora. Chega mais, tudo se repe­te, ninguém compra. Seráfico explica ­ex­celência dos animais comprados tão longe para servir na região. Nada convence nin­guém e as cabras acabam ­sobrando, no final da feira. Seráfico nunca havia per­dido uma única venda e bem agora que tinha tanta preciosidade na mão, deu com os burros n´água. A bem dizer, Será­fico levou uma surra. Pensou, pensou, pensou e descobriu a maneira de vender bem, no próximo sábado.

Na sexta-feira, logo cedinho, montou no burrico e foi até à cada do bigodão, levando as cabras. Este, logo que viu Se­ráfico, alisou o cabo da peixeira, pra mostrar que ali havia algo mais além do bigodão, e trincou os dentes:

- Aqui não se faz troca de animal, não! Nem pense nisso, homem de Deus, pois que isso é desfeita em riba de homem de bem. Sou cabra de palavra. Sou po­bre, mas não aceito desaforo.

Seráfico sorriu, para desanuviar o ho­mem que, nessa altura, já tinha ­gasto toda grana na feira.

- Tenha calma, homem de Deus. Eu vim por bem. Não quero devolver nenhuma cabra, não. Só quero que chame as crianças, para matarem a saudade.

O do bigodão franziu o sobrolho e cha­mou a meninada, que nem ligou pras cabras que tanto adoravam. Seráfico, então, completou a missão:

- Sabe, eu vim aqui para lhe dar mais algum dinheiro. Dessa vez eu quero alugar as crianças para a feira de amanhã, pois estou querendo vender os animais. Com as crianças por perto, cho­rando, abraçando as cabras, vou comover muita gente e acabarei conseguindo um bom preço e, quem sabe, nós podemos até ficar sócios daqui pra diante.

Pela primeira vez, o do bigodão soltou um sorriso, talvez querendo dizer que ia topar a parada, pois, afinal de contas, negócio é negócio.






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