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A bolotinha que valia ouro

- 03/07/2008

A bolotinha que valia ouro

 

 

Como em qualquer povoado nordestino, a feira dominical acontecia na frente da igreja. Ali se acotovelavam as barracas, cada uma com suas tentações: queijos, linguiças, salames, sucos, carne-de-sol, churrasquinho, mungunzá, bor­dados, solados, e toda sorte de mule­tagem que pudesse render uns caramin­guás.

Ninguém sabe como surgiu, mas o cer­to é que se espalhou a notícia de que iria haver uma Loteria especial, desta vez sem chance de privilegiar qualquer coronel, o padre, ou as freiras do orfanato, nem a velha professora atarefada com a formatura do ano. Seria uma loteria limpa, pra todo mundo ver.

Todo mundo tentava explicar como ia ser a tal nova loteria que, para susto geral, foi aprovada sem qualquer discussão.

Na praça da matriz, riscou-se um qua­drado avantajado, bem lá no meio. De lá foram retirados os grossos ladrilhos, deixando um buraco quadrado, no chão. Ali foi plantada uma grama gostosa, com bastante adubo. Depois de noventa dias, estava tudo pronto para inaugurar a loteria. A multidão saiu da missa alvoroçada, pois ia correr o grande prêmio. Não havia cidadão que não tivesse apostado algum trocado na nova loteria, única no mundo.

Logo cedo, o tapete verde foi ­riscado com cal moída, bem fininha, formando dez quadradinhos de cada lado. Total: cem quadradinhos no tapete verde. Cada quadradinho podia ser facilmente identificado pelos fiscais da nova loteria.

- E isto vai funcionar mesmo? - queria saber o coronel Sinfrônio.

- Pôxa, se vai! Nunca ninguém viu coisa tão ajeitada, meu coronel - respon­deu Sinhá Zefinha, garantindo que não havia chance de trambicagem.

Vira e mexe, chegou o momento, o povaréu acotovelou-se ao redor do quadrado, e um fiscal veio puxando a cabra Veluda, que iria determinar quem ­seriam os vencedores da grande festa.

- E que diabo a cabra tem a ver com isso? - perguntava um curioso do povoado vizinho.

- É simples - adiantou o Joé do Bacalhau. A cabra ficou de jejum e, agora mesmo, comeu até se rebentar. Está tinindo, doidinha para despejar as bolo­tinhas, mas só falta a inspiração. Aí, então, o pessoal vai colocar a Veluda no gramado e ela, naquele verde inspi­rador, vai dar umas mordiscadas e, na hora, vai despejar as bolotinhas. Os fiscais vão anotar onde caíram as boloti­nhas. O vencedor é quem escolheu o quadradinho onde a cabra despejar as bolotinhas.

- Ôxa! O estrumador da cabra vai indicar o vencedor? E como pode ser?

- É assim. Onde cair a primeira bolo­tinha, o comprador do quadradinho vai ganhar 50% da loteria. O restante do di­nheiro vai ser distribuído para todos os quadradinhos onde a cabra depositar qualquer outra bolotinha.

- Tá certo! Se houver muita bolota, então serão muitos ganhadores. Tá ­feita justiça.

- Puxa, quer dizer que o resultado da estrumância da cabra vai valer ouro?

- Acertou! Nunca se viu uma estru­mície valer tanto dinheiro.

- Mas o povo vai encabular a bichi­nha.

- Não vai, não! O povo vai mandar, pedir, rezar, implorar pra cabra ir pra lá, ou prá cá, cada um puxando a brasa pra sua sardinha. A cabra vai ficar meio confusa, engoiada, mas não vai se segurar no meio do sol bravo e vai logo despejar as preciosas bolotinhas no gramado. Aí será a festança.

Foi assim que começou a loteria excrementícia que ganhou fama durante muito tempo no povoado. Mas - com o passar do tempo - foi excomungada pelo padre, pois era uma atividade peca­minosa bem na porta da igreja. Também foi excomungada pelos governistas que queriam ganhar tudo sozinhos e, como tal, não admitem loterias paralelas, principalmente de estrume de cabra alheia.

O certo é que muitas cabras fizeram a fortuna e alegria da feira e nunca ninguém viu uma loteria tão honesta e ­justa.






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