O estado corporal e nutricional dos animais tem grande importância em seu desempenho e, no caso dos caprinos, sua capacidade de reprodução e de produção de leite, tem a alimentação como componente determinante para a qualidade desses processos. No Brasil, por adaptarem-se a regiões de clima semi-árido, propriedades do Nordeste adotam a caprinocultura como importante fonte de renda.
Em localidades cuja disponibilidade de alimentos é limitada, e na grande maioria das vezes associada à secas prolongadas, esses animais apresentam a vantagem de entrar no cio e ovulação ao longo de todo o ano e, portanto, uma produção de leite, carne e reposição do rebanho praticamente contínua. Animais de baixo escore corporal e com desnutrição acentuada apresentam, no entanto, interferência no seu desenvolvimento, como por exemplo, atraso e até ausência de cio. Diante de situações desfavoráveis em relação ao clima e à quantidade e qualidade de alimentos disponíveis, torna-se importante a suplementação vitamínica, mineral e inclusive, probiótica aos rebanhos.
Para fazer frente a essas demandas é necessário que sejam fornecidos volumosos complementados por uma nutrição que assegure a produtividade dos rebanhos. Uma das formas de aumentar a capacidade de suporte e a produtividade de uma propriedade se dá pelo cultivo de gramíneas e leguminosas de porte herbáceo. Outra opção é o plantio de forragens que se prestem na formação de capineiras – como o milho, sorgo, capim elefante, napier, entre outras forragens. Em épocas do ano em que a carência de volumoso é maior, os animais devem ter acesso à suplementação com feno ou silagem de leguminosas e/ou gramíneas. Também deve ser oferecida uma mistura de sal mineralizado (sal comum acrescido de mineral), nos cochos, colocados nos apriscos, à vontade, durante o ano. O consumo médio por animal/dia é de 15 gramas.
Crescimento
Animais em fase de crescimento, para assegurar um bom desempenho e desenvolvimento, já a partir do terceiro mês de vida, devem receber um volumoso de boa qualidade e 250 a 350 gramas/dia de um concentrado com, no mínimo 15% de proteína bruta, complementado com uma mistura mineral completa de boa qualidade.
A ração deve conter uma relação cálcio e fósforo na proporção próxima de 2 para 1 sem, entretanto, usar níveis elevados, evitando-se desta forma a formação de cálculo renal – bastante freqüente em caprinos.
Animais reprodutores
A ovulação e a fertilidade são determinadas pela alimentação durante toda a vida reprodutiva do animal, com ênfase ao período de pré-cobertura. É fundamental fortalecê-la por meio do fornecimento de forragens, utilizando-se daquelas forragens conservadas por fenação e ensilagem, e orientar um manejo adequado das pastagens, que em geral são poucas e devem ser dimensionadas, com taxa de lotação correta e pastoreio rotacionado.
As fêmeas, antes do período de monta ou período de pré-acasalamento, devem recuperar-se para que possam atingir escore corporal/estado nutricional, por isso, as reservas orgânicas perdidas na gestação e lactação anterior devem ser repostas. Recomenda-se, portanto, a separação e seleção das fêmeas destinadas à cobertura 30 dias antes. Elas devem ser remanejadas para um local apropriado, recebendo uma maior atenção sanitária e nutricional, com uma dieta de maior valor energético, rica em fibras estruturais, e mantidas nesta condição até 30 dias após o acasalamento, visando a maior viabilidade dos fetos e gestação a termo.
As rações fornecidas às fêmeas nessa fase devem ter milho triturado, de 60 a 70%; farelo de soja, de 25 a 30%; torta de algodão, de 20 a 25%; casquinha de soja ou farelo de trigo, de 15 a 20%; e sal mineral de boa qualidade em torno de 2%. É recomendável a não utilização de uréia nesse período, pois poderia prejudicar a fixação do óvulo já fecundado na parede do útero e o desenvolvimento do feto. Já a quantidade de ração a ser fornecida está diretamente relacionada à qualidade do volumoso, entretanto, ela deve representar, em média, 35 a 40% do consumo total da ração diária nessa fase. No terço final de gestação os animais tendem a reduzir o consumo de volumoso pela compressão do rúmen devido ao desenvolvimento do feto. Nessa fase, o animal precisa em torno de 600 gramas de um concentrado com teor protéico entre 20 e 22% de PB, juntamente com volumoso de boa qualidade à vontade e 3% de uma mistura mineral de boa qualidade na ração.
Os machos reprodutores também devem receber uma mineralização, atendo-se aos níveis de cálcio e fósforo e sua relação, próxima de 2 para 1, pois favorecem o aparecimento de cálculos urinários, tanto pela deficiência ou excesso desses minerais. Eles também podem receber o mesmo arraçoamento das fêmeas, adequando-se apenas a quantidade ao seu peso vivo. Quando a forragem for de boa qualidade e o animal não estiver em serviço, evita-se a ração concentrada, fornecendo então apenas uma boa suplementação mineral. Trinta dias antes e durante a estação de cobertura é necessário oferecer um suplemento protéico diário com 15-16% de proteína, na quantidade de 800 a 1.000 gramas, acompanhado de água em abundância. Terminado o período de cobertura a alimentação deve voltar ao normal. Para um bom escore corporal/nutricional é necessário também que os animais estejam soltos em piquetes para se exercitarem.
Produtos disponíveis
Diante da importância de suplementação, o mercado disponibiliza alguns produtos diferenciados que atuam nessas e em outras demandas: os probióticos, por exemplo, proporcionam uma série de vantagens, como o aumento da resistência dos animais às agressões do meio ambiente e estímulo às funções imunológicas – benefícios fundamentais para o sucesso dessa atividade que tem nos problemas sanitários um de seus maiores entraves –, além do incremento nas taxas zootécnicas.
Antônio Roberto Bacila - é médico-veterinário, diretor técnico e presidente da Organnact Saúde Animal.
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