A ovinocultura de corte vem ocupando espaço em vários países, como Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Espanha, França, Inglaterra, Uruguai, Argentina, entre outros. No Brasil, o efetivo de ovinos em 2006 era de, aproximadamente, 16.019.170 milhões de cabeças, sendo que 9.379.380 (58,55%) encontravam-se na região Nordeste (Anuário Brasileiro de Caprinos & Ovinos, 2008). A exploração de ovinos no Brasil, até o passado recente, era vista como atividade pecuária secundária, particularmente recomendável para as regiões menos desenvolvidas do país. Daí, a zona semi-árida do Nordeste ter despontado como uma das mais apropriadas para a exploração de ovinos, principalmente os deslanados.
Evidencie-se, no entanto, que a maioria do semi-árido nordestino é permeada pela caatinga, apresentando grande diversidade em sua composição florística com significante presença de plantas espinhosas, o que dificulta ou impossibilita a produção, em especial, de peles de boa qualidade.
Quando as três fases da exploração, ou seja, de produção, recria e acabamento, são feitas em regime de pastoreio tem-se a caatinga como suporte forrageiro exclusivo. Ressalte-se que os ovinos têm potencialidades biológicas para contribuírem com a produção de produtos de elevado valor biológico para a nutrição e o vestuário e, ainda, com esterco, matéria-prima essencial para o enriquecimento do solo, o que favorece a produção de alimentos. É fundamental, no entanto, que se invista na organização e gestão da cadeia produtiva, com foco nos mercados interno e externo e na satisfação do consumidor. Não se esquecendo que é de suma importância implementar melhorias no ambiente visando o bem-estar animal; no regime de manejo, independente deste ser extensivo, semi-intensivo ou intensivo; no estabelecimento de sistemas de exploração compatíveis com a função explorada; na transferência de conhecimentos e tecnologias e na assistência técnica, com foco no incremento da eficiência reprodutiva, na redução dos custos de produção e no aumento da produtividade.
Tratando-se da exploração para corte, a demanda por carne de qualidade é crescente e significativa o que passa a exigir o abate de animais jovens. Apesar da maioria dos produtores e agroindústrias trabalhar voltados para o abate aos quatro meses, o custo de produção desse tipo de cordeiro é muito alto, em função do elevado consumo de grãos e de seus derivados. Ressalte-se que é possível produzir carne e pele de qualidade com ovinos abatidos até aos 10 meses de idade, desde que castrados com idade inferior aos quatro meses. Independente da idade de abate, não se pode negligenciar a importância que tem o manejo nutricional e da promoção da saúde e o genótipo. Este deve apresentar, no entanto, boa conversão alimentar e capacidade de ganho de preso. Fatores que estão sendo suscitados na raça Santa Inês e, entende-se que somente através do melhoramento genético será possível alcançá-los. Mas, essa tarefa requer calma, dedicação, bom-senso, conhecimento, visão de futuro, etc.
Em anos recentes, a expansão da ovinocultura de corte para todas as regiões geográficas do país tornou-se realidade, e no caso das raças deslanadas, a disseminação da Santa Inês foi grandiosa. Registrando-se a forte e crescente exploração com fins econômicos no Norte, Sudeste, Centro-Oeste e Sul. Essas regiões constituem um território amplo e com grande potencial para a exploração semi-intensiva e intensiva de ovinos para corte. Evidencie-se que apesar da área territorial brasileira suportar o crescimento numérico dos efetivos, entende-se que não ocorrerão melhorias significativas na produtividade caso não se massifique o uso de conhecimentos e tecnologias apropriadas. O crescimento do rebanho não deve ser, entretanto, estratégia única e, por conseguinte, imperativa para a sustentabilidade do setor de carne de ovinos. Mas, sim, a diferenciação da atividade, o fortalecimento dela com foco nos processos produtivos e a melhoria da comunicação com os clientes que se mostram interessados pelos produtos oriundos da ovinocultura.
É fundamental focar as ações não apenas na produtividade por unidade de área, mas, também, na rentabilidade econômica, com foco na conservação do ambiente e na satisfação do consumidor. Não se pode esquecer que o desenvolvimento econômico, além de ser afetado por determinantes políticas é, também, fortemente influenciado pelo mercado e pelas estratégias de comercialização. Neste contexto, o custo e a diversificação da produção, a qualidade de produtos e serviços, a logística, a constância da oferta e a competitividade tornam-se primordiais para o crescimento e o desenvolvimento da ovinocultura de corte. Com o uso das raças deslanadas enfatiza-se a perspectiva de produção de carnes e peles de qualidade e a preços de custo em condições de competir nos mercados, interno e externo.
Ainda falta ao país uma raça brasileira especializada para corte e, preferencialmente, que tenha capacidade genética para produzir carne e pele de qualidades. Esta assertiva encontra suporte nas demandas crescentes dessas comodities, nos mercados interno e externo. Particularmente, no que tange à raça Santa Inês, entende-se que apresenta potencial ímpar para ocupar esse espaço, mas, certamente, ainda não deve ser considerada competitiva quando confrontada, por exemplo com raças européias especializadas para produção de carne, apesar da excelente qualidade da carne e da pele. Melhorias genéticas são necessárias com foco na prolificidade, isto é, o número de crias nascidas por fêmeas paridas, na precocidade sexual, na conversão alimentar e na carcaça. Esta precisa atender a demanda dos abatedouros, frigoríficos e dos canais de comercialização, pois, só assim, será competitiva.
Ressalte-se que a prolificidade, a sobrevivência de crias e a precocidade são pontos críticos e fundamentais numa exploração ovina para corte. Para tanto, muito precisa ser feito no tocante ao melhoramento genético, o que suscita o efetivo apoio dos governos federal e estadual e a participação dedicada, a médio e longo prazo, de produtores comprometidos com a ovinocultura brasileira, no presente e no futuro.
Atualmente, é lamentável assistir o uso quase exclusivo da raça Santa Inês como linhagem materna em cruzamento com raças especializadas para corte. Com esta conduta, caminha-se a passos longos para a redução do efetivo, quando dever-se-iam implementar programas de melhoramento genético com foco no crescimento e desenvolvimento da raça. O país é continental, o que suscita e suporta o crescimento numérico, o qual deve ser conduzido com forte inserção nos mercados, respeitando-se as exigências do consumidor e evidenciando-se as características positivas da raça. E, certamente, ainda não é o cruzamento industrial ou mesmo o absorvente que irá dar o grande salto que a ovinocultura brasileira precisa, mesmo quando se usam raças como a Dorper e a Texel. Claramente, não se vislumbram maiores contribuições quando do uso de outras raças lanadas, mesmo especializadas para corte. Por outro lado, apesar da ovinocultura de corte, no transcorrer das três últimas décadas ter despertado a atenção de alguns governantes, em seus três níveis de poder, municipal, estadual e federal, o apoio recebido tem sido ainda insuficiente para garantir com segurança o crescimento e o desenvolvimento da atividade.
Aurino Alves Simplício - é médico veterinário, PhD em Ciência Animal, ex-pesquisador da Embrapa e professor colaborador do curso de mestrado em Ciência Animal da Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA.
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