Com um potencial de crescimento de 100% ao ano no Estado do Rio de Janeiro, o mercado de carne ovina vem atraindo o interesse de investidores para o setor. Preparando-se para a expansão do mercado, associações e empresas ligadas à ovinocultura se mobilizam para receber novos investimentos e combater gargalos para a atividade. Levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2007, mostra que cerca de 80% da carne de cordeiro consumida em território fluminense vem de outras regiões e países.
O período favorável para o segmento se confirma, na opinião do criador Marcelo Spínola Vianna, com o aumento da procura no Estado pela carne de cordeiro, inclusive por parte de grandes redes de supermercado. Para ele, o Rio de Janeiro tem aptidão para criações de pequenos ruminantes. A atividade se adapta à realidade estadual, formada em sua maioria por micro e pequenas propriedades.
Há três anos, o produtor deixou a profissão de analista de sistemas e iniciou a criação em Araruama, nas Baixadas Litorâneas. Hoje, vive exclusivamente da atividade. Percebendo a necessidade de se organizar para buscar benefícios para o setor, há dois anos, juntamente com outros criadores, fundou o NOC Lagos, Núcleo dos Criadores de Ovinos e Caprinos da Região dos Lagos. Atualmente conta com 25 integrantes. “Nosso objetivo é unir os criadores de forma que utilizem o mesmo tipo de manejo, sanidade, alimentação e gerem um produto final de qualidade. Hoje, existem quatro associações representativas do segmento no Estado”, informa.
Segundo o IBGE, em 2007, a ovinocultura fluminense reunia 45 mil cabeças. Marcelo acredita, no entanto, que o rebanho estadual seja superior. Para ele, muitas criações não estão cadastradas oficialmente por falta de informação por parte dos pequenos criadores.
Vantagens
Entre as vantagens da ovinocultura destacadas pelo criador, está o fato de a atividade ser desenvolvida em pequenas áreas e apresentar lucratividade seis vezes maior que a bovinocultura.
“Em três anos, em um hectare de terra, é possível criar um bezerro até o abate. No mesmo espaço físico e de tempo podem ser preparados para abate 36 cordeiros. Nas devidas proporções de peso e preço vivo, a lucratividade do ovino é seis vezes superior”, exemplifica.
Entusiasmado, o produtor, que usa o sistema de semiconfinamento para criar 160 animais, prepara-se para migrar para o sistema de confinamento e ter até o fim do ano, um plantel de 1.500 ovelhas. Pela técnica, é possível manter uma ovelha por metro quadrado, alimentando-a no cocho e otimizando o espaço. “Como o volume de animais prontos será muito maior do que criados a campo, a criação não é onerada. Além disso, para uma produção industrial em larga escala, que atenda a demanda nacional, o confinamento reduz custos de sanidade e de manejo. Isso facilita a padronização e qualidade dos animais”, garante.
Atualmente, Marcelo mantém o negócio com a venda de animais vivos, matrizes e reprodutores. Os machos para corte são comercializados entre R$ 2,50 e R$ 3,50, quilo vivo. As fêmeas prontas, vendidas para matrizes, custam entre R$ 150 e 400. Os reprodutores variam de acordo com a raça e a classificação genética, oscilando de R$ 1,5 mil a R$ 5 mil. Segundo o criador, o abate de seus animais não é feito desde maio de 2007, porque a realização tem encarecido o produto. “O número insuficiente de abatedouros no Estado tem gerado problema de logística, encarecendo o preço final da carne e tornou-se um dos principais gargalos para a ovinocultura. É em Petrópolis, o único abatedouro com o selo do Serviço de Inspeção Estadual (SIE)”, ressalta.
Abatedouro
Para começar a resolver a questão do abate, o criador informa que já está em andamento o processo para a construção do primeiro abatedouro-frigorífico com industrialização, específico para ovinos e caprinos do estado.
O local, Araruama, já passou por vistoria inicial. Faltava apenas a liberação da obra. A situação leva ao abate clandestino, apontado como outro problema do segmento. “O abate ilegal coloca no mercado um produto de baixa qualidade, sem inspeção e com competitividade desleal. Quem o pratica não recolhe os impostos. O setor também necessita de mais incentivos fiscais. No Mato Grosso, por exemplo, a ovinocultura é isenta de ICMS, mesmo tratamento dado à carne importada do Mercosul e comercializada aqui. Para quem produz aqui, essa competição é injusta”, analisa.
Segundo ele, a NOC Lagos já solicitou à Secretaria Estadual de Fazenda a redução de 100% do ICMS para a atividade. A qualidade e o sabor da carne foram as primeiras preocupações do ex-analista de sistemas ao iniciar a atividade. Optou pelas raças Dorper (machos), mais carniceira, e Santa Inês (fêmeas), sem lã, por sua boa aptidão materna e com ciclo o ano inteiro. “O produto desse cruzamento industrial resulta em um animal precoce, com boa formação de carcaça e carne levemente marmorizada. Tem maior aceitação pelo consumidor. Além disso, animais sem ou com pouca lã não passam para a carne o sabor forte da lanolina - conhecido como ranço da carne de carneiro -, comum nos produtos importados, onde os criatórios também visam a produção de lã. Esta é uma das nossas grandes vantagens”, conclui.
Ana Angélica Gramático é jornalista. Material cedido por Marcelo
Spínola, fundador do NCO Lagos. Fonte: Jornal Rio Rural.
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