Dentro de qualquer atividade do agronegócio,
a venda do produto é determinada pela lei da oferta
e da procura. O mercado de ovinos é assim também?
Desde que mundo é mundo, a lei da oferta e da procura sempre prevaleceu, ou seja, se há escassez de um produto o preço no mercado sobe, se há produto em grande quantidade, o preço cai. Da mesma forma está acontecendo com a ovinocultura no Brasil, mais especificamente com a raça Santa Inês.
A Santa Inês é a raça que mais cresce no país devido as suas virtudes como animal deslanado adaptado para o clima tropical. Saiu do Nordeste, seu local de origem, e ganhou o Brasil inteiro. Em busca de crescer pelo mundo afora, os ovinos Santa Inês já são exportados para toda a América do Sul, África, Indonésia e Malásia, mas as condições sanitárias do Brasil ainda precisam se adequar às normas de exportação para o resto do mundo.
Há alguns anos, escrevi nessa mesma revista a matéria “A explosão da ovinocultura” após ter visitado uma das maiores feiras de caprinos e ovinos, a Feinco, em São Paulo. Na ocasião, a matéria tratava do euforismo pela atividade em geral, com muita gente ingressando no ramo, iniciando uma criação, montando imensas instalações, adquirindo rebanhos enormes e comprando animais de elite a peso de ouro. Para qualquer atividade mercadológica, todavia, em que se busca lucro, é preciso planejar e analisar o mercado.
Muitos agropecuaristas, porém, entraram na atividade, não se organizaram e ainda trocaram a atividade antiga pela a ovinocultura. Nessas condições, planejamento é essencial para a sobrevivência da pecuária. Isso envolve controle de custos que vai desde a produção até o escoamento do produto final. A revista O Berro já mostrou que desta forma é possível obter lucratividade, comparando a produção da bovinocultura com a ovinocultura, planejando números de partos, idade de abate, entre outros.
Acontece que, dentro de uma atividade zootécnica de produção animal, seja para carne, pele, lã, ovos, genética, etc., é preciso ter a base da pirâmide, ou seja, os rebanhos comerciais que irão produzir o produto final os quais irão à mesa do consumidor em todos os lares do Brasil desde o Oiapoque ao Chuí.
Até o momento, isto não aconteceu, mas estamos caminhando. Estou falando da produção de carne de cordeiro. Porque sem ela a atividade não se justifica existir no Brasil, nem em quase lugar algum.
mercadNo Brasil, a ovinocultura divide-se em dois aspectos: seletiva (animal de elite) e produtiva (animal de corte), e com a grande euforia da corrida ao ovino, a maioria dos produtores deu preferência à seleção, ao invés de produzir carne, porque naquela época - cerca de 7 anos atrás - tudo o que se produzia de animais registrados era absorvido pelo mercado. Isso quer dizer que um animal de elite, de qualidade genética superior e devidamente registrado, que pode custar cerca de R$ 2 mil, é mais valorizado e atrai mais investidores do que um animal de corte, que pode ser comercializado em torno de R$ 120, por exemplo.
Foi apenas uma questão de tempo para acontecer a grande oferta de animais no mercado, através de leilões com transmissão ao vivo e eventos que se espalham pelo país. Essa divulgação dá popularidade à ovinocultura e valoriza os animais e o setor como um todo.
O fato de a ovinocultura de produção estar “em baixa”, ou seja, ser menos procurada do que a seletiva, faz com que ela seja vista como alternativa pouco viável, estreitando a produção e dificultando a absorção do montante produzido.
Também é preciso incrementar a avaliação genética nos rebanhos. Chega de vender animais bem preparados à base de ração em sistemas artificiais de criação. Precisa-se de uma ovinocultura funcional, produtiva e lucrativa para todos. Deste modo, o produtor de genética, ou de animais comerciais, ou de terminação, ou indústrias e o consumidor saem ganhando, adquirindo carcaças ou mesmo cortes selecionados de cordeiro precoce e de qualidade.
O mercado de ovinos cresce a passos largos e rápidos, porém, numa mesma direção: a genética. A maior parte dos pecuaristas deixa de lado a produção de carne, tornando essa fase da atividade mais difícil e acreditando que investir só em genética é o caminho certo. Será que é assim que deve ser? Quem cria para abate fica na desvantagem? Isso é engano! O brasileiro está aprendendo e gostando de consumir carne ovina.
Hoje, o produto é encontrado com mais facilidade em supermercados, casas de carne, churrascarias, restaurantes e inclusive está presente nos churrasquinhos improvisados no final de semana. A parte produtiva tem vantagens, o povo quer carne na mesa, nas festas, no barzinho e de muitas outras maneiras. Por isto, quem “cria para carne“ não fica sem mercado; a venda é garantida e pode aumentar ainda mais no final de ano com a chegada das datas comemorativas.
Basta, portanto, fortalecer a produção e cada um fazer a sua parte, seja como criador, indústria e consumidor. Exemplos disso são as associações de criadores de ovinos e os núcleos estabelecidos pela Associação Paulista dos Criadores de Ovinos (Aspaco). Cada núcleo possui um grupo de produtores assistidos pela Associação na comercialização de seus produtos.
Cada região pode fazer seu grupo unir-se, trabalhar em prol da atividade e deixar as águas turbulentas passarem.
Marcelo Barsante é zootecnista e consultor da Neo-ovinos.
Link para esta p᧩na: http://www.revistaberro.com.br/?pages=materias/ler&id=998