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ATÉ QUANDO A FALTA DE ATENÇÃO

Autor: Tadeu Pontes - 11/03/2011

É fácil mudar o cenário do Nordeste semiárido, bastando privilegiar,

ou prestigiar, o esforço dos que lá vivem. Isso vai direto a favor da pecuária rústica, cabras, ovelhas e bovinos. Por que não surgem homens, de verdade,  para lutar pelo Semiárido nos palácios do Governo?

 

 

Os fundamentos básicos para qualquer atividade sustentável e lucrativa no campo da criação dos animais domésticos são o manejo alimentar, o manejo sanitário e o manejo reprodutivo. Temos também a consciência de que só funcionarão sanidade e a reprodução se a nutrição estiver adequada, ajustada, particularmente sem pendência de forrageiras leguminosas e gramíneas de qualidade para todo o período do ano.

 No Nordeste, tanto no litoral como no sertão (caatinga), o peso da criação está voltado para a produção de leite, seja bovino ou caprino. Nesse sistema os criadores têm consciência da importância da suplementação proteica e energética dos animais, se quiserem algum retorno de produção. Nestas re­giões existem ainda algumas “ilhas de produção” de bovinos e ovinos voltadas para pro­dução de carne apresentando certa viabilidade econômica, mas para os caprinos não se pode dizer o mesmo. O leite, portanto, é muito importante no Se­miárido. Pode-se afirmar que a Zoo­tecnia da carne está atrelada à Zootecnia do leite.

Falando em relação ao rebanho caprino e ovino que habita na caatinga semiárida - o que representa 80% do Nordeste brasileiro - o sistema ainda é extensivo ou semiextensivo e sem assistência técnica. Quando muito, surge a Emater que, infelizmente, não possui meios para o acompanhamento e acaba realizando apenas uma simples visita técnica, a qual muito deixa a desejar.

 

u Fruto do abandono - Nessas condições de abandono, no período de inverno, por manejo inadequado e falta de abrigos, morre percentual considerável de animais, particularmente de crias, e também animais adultos.  De maneira similar, no período de seca há a perda de ani­mais, que tinham conseguido escapar do inverno, pela falta de alimentação nos pastos, seja forragem nativa ou ausência de reserva alimentar.

Recentemente, entre 2009 e 2010, pudemos constatar duas situações completamente extremas:

- no primeiro ano, com chuva demasiada, levando doenças para todos os rebanhos;

- no segundo ano, com chuvas abaixo da média, não sendo suficientes sequer para encher os reservatórios e, então, muito menos para garantir a manutenção de pastagem nos campos.

Diante dessas condições os rebanhos caprinos e ovinos do Semiárido retrocederam. Nos dois anos, a mortalidade das crias ficou em torno dos 60%, e dos animais adultos em torno dos 30%.

E pensar que esse quadro se repete todos os anos, com maior ou menor intensidade! Confirma o ditado popular que, em cada 10 anos, 1 é ótimo, 2 são regulares, 3 são ruins e 4 são péssimos! Como é possível rolar ano após ano e não se enxergar qualquer vislumbre de mudança no comportamento dos políticos para com o Semiárido? Precisamos de responsabilidade e seriedade nos trabalhos voltados para a caprino-ovino­cul­tura. Modernamente, o governo descobriu que não bastava voltar as costas para o produtor de riquezas do Semiári­do, mas deveria, sim, procrastiná-lo, privi­le­giando as pessoas pobres com programas tipo Bolsa Família, e outros. Com tais ferramentas pseudossociais, o governo enfatiza que os produtores de riqueza ficarão mesmo ao desamparo. O descompasso entre o tratamento dado aos agropecuaristas de São Paulo e os nordestinos é terrível, mas não se enxerga um único político nordestino erguendo a voz a favor dos produtores do Se­miárido.

 

u Caros e fatais - Há 13 anos, em 1997, teve início uma onda que se tornou febre: a importação de animais, em­briões e sêmen de raças exóticas com o sonho da redenção produtiva para os rebanhos regionais. O trabalho, porém, foi realizado sem planejamento e sem o devido acompanhamento técnico em todas as regiões do Brasil, inclusive no Semiárido. Explica-se, facilmente: por não assumir a realidade do chão nordestino, o governo vai permitindo tentativas de milagres palatáveis ao povo sertanejo, mas - no fundo - trata-se de enga­na­ção pura e simples, evidenciando absoluta omissão diante da dignidade do homem do campo, pois as autoridades científicas dentro do governo sabem que tais importações são inúteis a médio e longo prazos.

No lugar de direcionar as ações para a produção de carne, os mentores enveredaram pelo caminho sem volta da formação de novas raças por cruza, deterio­rando o que havia de mais precioso em termos de genética adaptada, que era a rusticidade dos rebanhos nativos.

É absurdo observar que o escritor Rinaldo dos Santos catalogou várias dezenas de raças nativas ou nativizadas, há já muitos anos, para servirem como ferramentas da redenção sertaneja” - e isso jamais foi levado em conta pelas instituições! As autoridades preferiram, inclusive, prejudicar, piorar a riqueza das nativas, por meio de introdução de raças exóticas que pouca contribuição poderiam trazer ao Semiárido.

Estas ações trouxeram um prejuízo sem precedentes no que diz respeito aos rebanhos nativos devido ao decréscimo da rusticidade, fertilidade e prolificidade dos descendentes, além do visível retardo no crescimento dos rebanhos. Já se sa­bia que isso iria acontecer!

Zootecnicamente, os trabalhos de cruzamentos deveriam ter ficado a cargo das instituições de pesquisa, com a finalidade de produção de raças ou tipos adaptados (ecótipos). Só assim estes animais, ou raças, poderiam ser introduzidos nos rebanhos do Semiárido e, mesmo assim, com o propósito de en­viar mais de 80% da produção para o abate, até conseguir obter bons ecótipos.

 

u Sanidade - Ao abordar o assunto sanidade para caprinos e ovinos, vêm à tona as parasitoses, fator limitante na produção de pequenos ruminantes. Com o avanço da ciência, no entanto, o controle e convivência com as parasitoses é possível, particularmente por meio do controle integrado por meio da utilização do Método Famacha e utilização de ionó­foros como a Salinomicina e Monen­sina Sódica na profilaxia da Eimeriose.

Quanto às outras doenças, principalmente as exóticas, que se alastraram em grandes proporções nos últimos 10 anos, deve-se instituir programas de defesa e sanidade a nível estadual e federal. Na nossa concepção, já existem nos estados em todo o Brasil, estrutura, condições e meios para a implantação de um programa nacional de sanidade de ca­prinos e ovinos, faltando é vontade e determinação política das autoridades nordestinas (que deveriam ser as principais interessadas), já que 95% dos ca­prinos e 58% dos ovinos do rebanho nacional estão na região. Os responsáveis pela execução das leis e responsabilidades acerca do assunto nos estados são as Secretarias Estaduais de Agri­cultura, através dos Institutos de De­fesa e Inspeção Agropecuária e o Ministério da Agricultura, através de suas delegacias estaduais. Aqui é oportuno fazer uma pergunta: por que persiste a discriminação em relação à defesa e sa­nidade dos caprinos e ovinos? Será porque os rebanhos estão concentrados quase que totalmente no Nordeste brasileiro? Por que a obsessão em manter o Semiárido sempre pobre, dependente, um pária nacional, um lúmpen desajeitado, com atividade restringida a ser eleitor do mentiroso do momento no cenário político? Por que o presidente Lula não redimiu o Nordeste, com medidas fortes e duráveis? Por que outros não o fizeram? Quem garante que o atual governo vá fazê-lo?

 

u Paralisia - As associações também devem mudar seus rumos de atuação, já é mais do que tempo de sair do “cartório”, ou seja, da concentração de responsabilidades apenas no registro de animais e regulamentação de exposições. É tempo de as entidades atuarem na linha de produção, incentivando movimentos de aproximação entre as representações estaduais e nacionais, particularmente promovendo a articulação entre as associações de criadores do Nordeste. Dessa forma, passaríamos à elaboração de documento que cobre ações efetivas voltadas à produção sustentável economicamente de carne ca­pri­na e ovina. A meu ver, isso só acontecerá quando se resolverem dois pontos principais:

- Alimentação compatível com os rebanhos durante todo o ano

- Instituição do programa nacional de defesa e sanidade, com mudanças na metodologia de atuação no controle às parasitoses que, como já foi dito, é fa­tor de grande limitação na produção.

Outro assunto que deve estar presente nas escritas do documento diz respeito às raças nativas e exóticas. Pa­ra as nativas, deverá ser desenvolvido trabalho planejado e acompanhado exclusivamente de seleção. A execução es­ta­ria a cargo de qualquer criador, sem discriminar. Para as raças exóticas os cruzamentos teriam que ser autorizados e acompanhados; a distribuição do produto final aos criadores seria feito pelo Governo Federal, através do MAPA.

Com o documento em mãos as associações, juntamente com os políticos, podem transformar a região do Semiárido nordestino em referência na produção de carne orgânica. Por que orgânica? Porque soma qualidades como baixo teor de gordura e elevados níveis de minerais, podendo fazer do produto um alimento funcional diferenciado, capaz de competir internacionalmente, remunerando me­lhor o produtor, representando mudança sustentável e econômica para as famílias no Semiárido do Nordeste brasileiro.

Enfim, é fácil mudar o cenário do Nordeste semiárido, bastando privile­giar, ou prestigiar, o esforço dos que lá vivem. Isso vai direto a favor da pecuária rústica, cabras, ovelhas e bovinos.

 

Dr. Tadeu Pontes - é Médico-Veterinário; Diretor Técnico - Associação Brasileira dos Criadores de Ovinos Soinga do Brasil - ACOSB






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